Ao terminar o Fórum de vacinas contra a Sida, em Abuja, na Nigéria, a responsável pela divisão de doenças infecciosas da Organização Mundial de Saúde (OMS), Marie-Paule Kieny, mostrou-se optimista.
Segundo Kieny, a busca de uma vacina contra a doença em África continua a ser um desafio muito difícil, que se agravou com o fracasso das pesquisas na África do Sul. Contudo, houve progressos e os africanos assumiram o controle do Programa de Pesquisas Africano (AAVP), que deixa de ser dirigido pela OMS, embora a organização continue a prestar ajuda técnica. O AAVP passa, portanto, a ter vida própria, subvencionado por governos africanos e outros organismos
Foram criados três centros para avaliar e coordenar o progresso das pesquisas no Senegal, na Africa do Sul e no Quénia. Ao mesmo tempo, outros países formalizaram, em Abuja, sua decisão em oferecer ajuda financeira ao Programa Africano de Vacina contra a Sida, assegurando assim sua continuação.
No início do Fórum, o ex-responsável pelo Programa, que cede agora o seu lugar aos africanos, falava na necessidade de se reunir um bilhão de dólares (680 milhões de euros) para se prosseguir com as pesquisas.
Aguardam-se resultados vindos da Tailândia
Embora a ideia de uma vacina africana possa parecer remota, Marie-Paule Kieny lembra que são aguardados, até o fim do próximo ano, os resultados de testes clínicos de eficácia realizados na Tailândia. "Esperamos que, mesmo na hipótese dos resultados não demonstrarem uma eficácia perfeita, haja, ainda assim, sinais positivos capazes de criarem novos produtos, até se poder chegar a uma vacina eficaz".
Quanto aos investimentos, Marie-Paule reconhece uma predominância do sector público, mas salienta haver uma participação significativa da iniciativa privada, em áreas como as fundações e a indústria farmacêutica.
"Compreendemos que investimento para a industria farmacêutica neste sector e a longo prazo possa ser difícil, pois a pesquisa poderá ser longa e cara. É, portanto, legítimo que o poder público tome a liderança nestes investimentos, porém, ao mesmo tempo, tudo deverá ser feito para se levar a indústria privada a participar desse esforço", sublinha a responsável da OMS.
Segundo Marie-Paule Kieny, "investir na vacina, é fazer um investimento para o futuro. Mas não podemos negligenciar o tratamento e o que está a ser feito no controle da doença e no âmbito de prevenção, como por exemplo a circuncisão".
O Dr. Eric Sandstrom, do departamento de investigação do Instituto sueco Karolinska desmentiu notícias difundidas na imprensa sobre uma possível vacina contra a Sida, produzida pelo seu laboratório, dentro de três anos.
"Houve precipitação por parte da imprensa na divulgação da notícia. Como cada fase dos testes clínicos leva cerca de três anos para ser concluída, é uma questão simples de matemática. No caso de resultados positivos dos testes, actualmente na fase 2, ainda restam seis a nove anos para as primeiras conclusões. Nenhum produto que esteja a ser testado actualmente no nosso instituto tem resultados a curto prazo", referiu o investigador.