O cientista, Saladin Osmanov, sublinhou não estar à espera de uma vacina miraculosa, pois a diversidade do vírus impede que surja uma vacina nos moldes tradicionais. E, por isso, está ocorrendo uma verdadeira revolução em termos de pesquisa.
A entrevista foi conduzida por Melinda Henry, em Abuja. Henry é membro do departamento de comunicação do Programa Africano da Vacina contra o HIV.
Será possível se desenvolver uma vacina contra o HIV?
Nós somos optimistas. Num pequeno número de testes, a protecção de animais vacinados contra uma doença parecida com a Sida tem sido conseguida, mas ainda é incerto se esse sucesso poderá ser transferido para os seres humanos. A pesquisa de uma vacina anti HIV precisa incluir testes de laboratório com animais, bem como testes clínicos com vacinas candidatas e uma estratégia de vacinação. Isso envolve muito investimento e tempo.
Por que está a levar tanto tempo encontrar uma vacina?
Uma vacina contra o HIV constituí um desafio extraordinário por diversas razões - numerosos dados científicos desconhecidos, questões éticas na aplicação dos testes clínicos, os aspectos social, financeiro e logístico, recursos humanos e uma infra-estrutura necessária para os testes clínicos, em particular em países de médios e baixos rendimentos.
Como desafio científico, o HIV paralisa as respostas imunitárias do organismo e deixa-as incapazes de controlar as infecções e prevenir a doença. Entretanto, para a maioria das doenças infecciosas, a vacina estimula uma resposta imunitária eficaz para proteger o organismo da infecção e ajudá-lo a proteger-se contra a doença. As estratégias tradicionais das vacinas exploram o uso de um micro organismo inteiro (vírus ou bactéria) morto ou tornado inofensivo, como é o caso da varíola, poliomielite e outras doenças. Porém, no caso do HIV isso não é considerado seguro e as vacinas candidatas usam partes do vírus para ser absolutamente seguro que a vacinação não resulta em infecção. Isso torna o desenvolvimento da vacina ainda mais complicado. O vírus da Sida varia muito e ainda não se sabe se uma vacina que proteja contra um subtipo do HIV pode também proteger contra outra variante genética do vírus.
Que recursos adicionais são necessários para se encontrar mais rapidamente uma vacina?
Existem várias maneiras de acelerar o prazo para se descobrir e desenvolver uma vacina contra a Sida:
- Aumentar o número de vacinas viáveis candidatas e levar o desenvolvimento do produto da Fase 1 de segurança à Fase 3 de testes de eficácia e utilização;
- Melhorar a qualidade dessas vacinas candidatas, aumentando as hipóteses de sucesso, através do investimento na pesquisa aplicada e nas técnicas usadas nos testes da vacina, como laboratórios padrões.
Para chegar a esses objectivos, precisam aumentar as despesas dos actuais níveis de 759 milhões de dólares por ano (2005) para um bilhão. Em 2005, os fundos entraram com 88% dos investimentos destinados à pesquisa de uma vacina HIV.O sector filantrópico entrou com 2%, equivalente a 12 milhões e o sector privado com 10%.
O que podemos esperar de uma futura vacina?
Uma futura vacina não será 100% eficaz. Entretanto, a vacina contra a Sida aplicada em conjunto com outras medidas preventivas voltadas para um comportamento seguro, como o uso de preservativos, microbicidas, controle da infecções transmitidas sexualmente, circuncisão, favorecem um optimismo realista quanto ao fim da epidemia.
A vacina anti HIV já foi testada em seres humanos?
Sim, cerca de 70 vacinas candidatas já foram testadas desde 1987 e em cerca de 90 Fases 1-2 de testes clínicos, envolvendo mais de 15 mil pessoas voluntárias nos EUA, Canadá, Europa, Austrália, porém de forma ainda mais importante nos países em desenvolvimento como Botsuana, Brasil, China, República Dominicana, Haiti, Jamaica, Índia, Quénia, Malawi, Peru, África do Sul. Tanzânia, Tailândia, Trinidade e Tobago, Uganda e Zâmbia.
Quantos testes clínicos estão sendo realizados no momento e onde?
No momento, múltiplas pesquisas estão sendo feitas paralelamente a uma segunda geração de vacinas candidatas, baseadas nos mais recentes avanços da nossa compreensão dos intrincados mecanismos de interacção do HIV com as células alvos e respostas de imunizações que possam neutralizar o vírus e impedir o desenvolvimento da doença.
Desde 2004, foram feitos 23 testes clínicos com diversas vacinas candidatas utilizando-se todas as armas de resposta imunitária que já terminaram ou estão em curso. Seis das vacinas mais promissoras foram direccionadas para serem testadas na Fase 2 ou 2B. Apenas alguns desses testes deram resultados encorajadores quanto à capacidade de provocarem respostas imunitárias protectoras.
Quantas vacinas chegaram a testes mais avançados?
Até agora só dois testes de eficácia em grande escala Fase 3 foram completados: um nos EUA envolvendo homens fazendo sexo com homens e outro na Tailândia com 2500 utilizadores de drogas.
Apesar dos resultados negativos, estes testes devem ser considerados como ensaios importantes por darem respostas definitivas a um certo número de questões científicas e serem desafios logísticos necessários a todos os que trabalham em prol do desenvolvimento de uma vacina HIV.
Um terceiro teste clínico de Fase 3 começou em 2003 e continua na Tailândia com 16 mil participantes. Os resultados são esperados em 2008/2009 para serem avaliados. Estes testes poderão produzir informações valiosas quanto ao sucesso ou fracasso de uma vacina candidata que nos poderá habilitar a prosseguir as pesquisas por uma vacina eficaz.
Como está envolvida a África na busca de vacinas contra o HIV?
Quando os primeiros testes foram feitos no Uganda, houve mais de 12 testes de vacinas em oito países africanos (Botsuana, Quénia, Malawi, Ruanda, África do Sul, Tanzânia e Zâmbia). Mais de 500 voluntários participaram. Isso foi relatado em parte no início das actividades do Programa Africano de Vacinação (AAVP), que vem tendo uma papel importante na promoção da participação africana no esforço global de pesquisa e desenvolvimento de vacina contra HIV.