ARQUIVO Mês do ambiente do Expresso 2013

Mar pode engolir quase 100 metros da costa de Aveiro

O mar tende a avançar três metros por ano na costa da região de Aveiro segundo os cálculos de investigadores da Universidade de Aveiro. Até 2040 podem desaparecer várias praias entre Cortegaça e Mira.  
O investigador Carlos Coelho, da Universidade de Aveiro
Universidade de Aveiro

Carla Tomás (www.expresso.pt)

Daqui a 30 anos, a costa na região de Aveiro deverá ter recuado uma média de 90 metros, fazendo desaparecer praias, deixando mais expostas zonas urbanas, destruindo áreas agrícolas e abrindo duas entradas para o mar na Ria de Aveiro.

A constatação tem por base um modelo algorítmico desenvolvido pelo investigador Carlos Coelho, do Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Aveiro, que há anos estuda a erosão costeira.

O modelo numérico de simulação dos avanços do mar foi aplicado a dois troços do litoral centro português (o mais afetado pela erosão) - Cortegaça-Furadouro e Vagueira-Mira - e pretende "prevenir cenários catastróficos", afirma o investigador. Por isso, espera que estes dados possam permitir "optar pela estratégia de proteção que melhores resultados apresenta".

Sempre que os invernos se revelam mais tempestuosos o mar já chega à porta de muitas casas, designadamente no Furadouro e na Vagueira. Há um plano de ação para o litoral aprovado pelo Governo. Porém, "tendo em conta as limitações de recursos financeiros do país", Carlos Coelho acredita que "as intervenções previstas podem mitigar as situações mas não resolvem os problemas". 

Mar já comeu mais de 100 metros de costa

Para aperfeiçoar o modelo algorítmico, Carlos Coelho (em colaboração com outros colegas da Universidade de Aveiro) reuniu a informação registada nos últimos 50 anos sobre os níveis de subida do mar, as variações do volume de sedimentos que chega às praias, as condições meteorológicas e de agitação marítima, a morfologia dos terrenos costeiros e as intervenções humanas de defesa costeira.

Só no último meio século, a taxa de recuo nesta zona de costa foi de 1,5 metros por ano, com umas áreas a retrocederem 73 metros e outras 120 metros, como entre Maceda e o Furadouro.

Mas mais do que a subida dos níveis do mar ou as alterações climáticas, é a falta de sedimentos (material arenoso que desce dos rios até à costa continental) que agrava a situação, concluíram outros estudos no âmbito do projeto ADAPTARIA  (financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia), no qual Carlos Coelho também colabora.

Segundo o investigador "as alterações climáticas apenas contribuem para 5 a 10% no recuo de costa". A verdadeira causa da erosão "está relacionada com a falta de sedimentos que chegam à costa, devido às barragens, à regularização dos cursos de água, às dragagens ou à exploração dos materiais inertes".

Só na bacia hidrográfica do Douro existem mais de 50 barragens do lado português, fora as que existem do lado em Espanha até à fronteira."O modelo numérico está em adaptação constante", explica o investigador, reconhecendo as limitações e a necessidade de monitorização constante para a "obtenção de mais dados que permitam calibrar o modelo de forma a obtermos melhores projeções".