Uma subida das temperaturas superior a 2 graus Celsius pode resultar em mais 600 milhões de pessoas na África Subsariana com fome, novas e mais frequentes epidemias de doenças provocadas pelos mosquitos, como a malária ou a Febre do Vale do Rift, falta de água, tremendos prejuízos para a agricultura e perca dos meios de subsistência. Os dados, hoje apresentados no Relatório de Desenvolvimento Humano 2007/2008, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, são alarmantes.
Procurando chamar as atenções para a gravidade da situação - numa altura em que se está em fase de negociações para o acordo multilateral para o período após 2012 ( o ano em que expira o actual período de compromisso do Protocolo de Quioto) - o relatório define um limite de 2 graus Celsius acima dos níveis pré-industriais (o actual nível é de 0,7 graus Celsius) para evitar uma catástrofe ambiental, indicando que mantendo-se a actual tendência o aumento deve ultrapassar os 4 graus ao longo deste século.
Caso não sejam tomadas medidas urgentes para reduzir as emissões poluentes, a profunda pegada de carbono dos países desenvolvidos pode conduzir o planeta para um "ponto sem retorno", lançando os cidadãos mais pobres a uma irreversível queda em espiral das condições de vida.
Segundo o administrador do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, Kemal Dervis, a consolidação da paz em diversas regiões africanas permitia vislumbrar um futuro promissor que poderá ser travado e mesmo invertido devido ao aquecimento global. "Se não agirmos perante as alterações climáticas, a esperança de África - o continente com a pegada de carbono mais leve - poderá ser destruída".
As previsões apontam ainda para que mais de 1,8 mil milhões de pessoas podem ser afectadas pelos problemas levantados pela tensão hídrica em 2080, com vastas regiões do Sul da Ásia e Norte da China a enfrentarem uma grave crise ecológica como resultado do recuo glacial e das alterações das épocas de chuva. As cheias e tempestades tropicais nas áreas costeiras e de baixa altitude podem levar à deslocação de 332 milhões de pessoas.
Os países desenvolvidos são os maiores poluidores e os grandes responsáveis pela situação, mas serão os países pobres os mais afectados, quer devido à sua situação geográfica, quer pela falta de recursos para fazer frente ao aquecimento global e às consequentes catástrofes naturais. O relatório indica que se cada pessoa entre as populações mais pobres do planeta tivesse o mesmo estilo de vida de um americano ou canadiano, seriam necessários nove planetas para suportar em, segurança, toda a poluição. Os 23 milhões de residentes no Estado norte-americano do Texas emitem mais CO2 do que os 720 milhões de habitantes da África Subsariana.
O documento considera, por isso, que os países ricos têm a "responsabilidade histórica de dar os primeiros passos para o equilíbrio do orçamento do carbono, procurando reduzir as emissões em pelo menos 80% até 2050 e em 30% até 2020". Se as actuais tendências se mantiverem, as emissões de CO2 vão aumentar em 50% até 2030.
"Estamos a enviar um apelo à acção, e não um conselho desesperado", refere Kevin Watkins, o principal autor do relatório hoje apresentado, "trabalhando conjuntamente e com determinação, poderemos vencer a luta contra as alterações climáticas. Permitir que a janela de esperança se feche representaria um fracasso moral e político sem precedentes na história da humanidade".