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John Coltrane e Eric Dolphy “desenterrados” 62 anos depois. Um caso de génio e transcendência

Uma gravação de meados de 1961 mostra John Coltrane e Eric Dolphy em intensa busca por um novo som para o jazz. “Evenings at the Village Gate: John Coltrane with Eric Dolphy” é um achado

As experiências que John Coltrane fez neste período haveriam de orientar a sua obra posterior, nomeadamente “A Love Supreme”. Eric Dolphy morreria em 1964

A 17 de julho, passam 56 anos sobre o desaparecimento de John Coltrane. É por isso mesmo notável que as quase seis décadas entretanto volvidas não tenham diluído o peso da sua obra. Ao invés, não será rebuscado concluir que vivemos num mundo pós-Coltrane, com a influência do saxofonista a ser mais premente do que nunca. Prova disso pode também encontrar-se na continuada busca por novas gravações que espelhem o seu génio e satisfaçam um público que não tem parado de crescer. “Evenings at the Village Gate: John Coltrane with Eric Dolphy”, que hoje mesmo é lançado globalmente pela Impulse, é o mais recente tesouro a ser encontrado e um precioso documento de uma era em que o espírito criativo do maior saxofonista da sua geração — e um dos maiores de todos os tempos — estava em constante modo de reinvenção.

No último par de décadas, a discografia de John Coltrane mereceu significativas adições resultantes de gravações esquecidas ou até mesmo desconhecidas. Em 2005, após a identificação de bobines gravadas pela Voice of America e arquivadas durante quase meio século na Biblioteca do Congresso, “Thelonious Monk Quartet with John Coltrane at Carnegie Hall” foi descrito pela “Newsweek” como “o equivalente musical da descoberta de um novo monte Evereste”. Mais recentemente, em 2018 e 2019, “Both Directions at Once: The Lost Album” e “Blue World”, respetivamente, representaram mais duas significativas entradas num cânone cuja expansão reflete a importância crescente de John Coltrane. Mas se as datas desses registos mostram, no primeiro caso, numa gravação de 1957, um músico sólido, mas a servir uma visão alheia, e nos outros dois, de 1963 e 1964, o mesmo músico já em pleno domínio da sua própria linguagem, o que é fascinante em “Evenings at the Village Gate”, com gravações de agosto de 1961, é que contém claros sinais do seu génio em plena ebulição.