Cultura

Padre gay, filme mau

"In the Name of...", da polaca Malgoska Szumowska, é uma montanha de equívocos.

"In the Name of..." é a história de um jovem padre que despertou tarde para a vocação

Francisco Ferreira, em Berlim

Em Berlim, está tudo em polvorosa com o adeus do Papa (ou não fosse ele alemão). Nos media, o festival de cinema passou o dia encostado a um canto. E é curioso notar: há uns dias, a figura de Bento XVI apareceu por escassos instantes no grande ecrã do Berlinale Palast. Foi no novo filme da polaca Malgoska Szumowska (cineasta formada na Escola de Lodz), "In the Name of..." É a história de um jovem padre que despertou tarde para a vocação e se ocupa agora de um reformatório numa paróquia rural da Polónia. O padre é homossexual, os desejos da carne não o abandonam. Szumowska, ela que já assinou documentários e sabe estar a tratar de um assunto que está na ordem do dia, começa a focar a narrativa no melodrama.

O padre, que se chama Adam (Timur Aidarbekov), sofre com a tentação e as coisas pioram quando um dos rapazes recém-chegados, Adrian, não tem problemas em assumir a sua sexualidade. Numa cena penosa, cercado entre quatro paredes, o padre, bêbado que nem um cacho, abraça-se à foto emoldurada do Sumo Pontífice que agora resignou. É infelizmente uma cena que resume o programa de "In the Name of...".

Não há muito a dizer deste filme polaco com ingredientes que costumam valer prémios na Berlinale. Mas sim, há: pouca vergonha. Szumowska é certamente uma cineasta preparada - nota-se o seu gosto pela direcção de atores -, mas é pena que não veja mais além do que vê. O problema não é dela e é bem mais grave, contudo. Nas escolas de cinema, ensina-se realização, fotografia, montagem, preparam-se pessoas para a profissão, mas não há meio de se ensinar outra coisa tão elementar como isto: é que com a Igreja não se brinca, senhores realizadores. E não se brinca mesmo, a história do cinema não o admite: ou se é profundamente herege, como Buñuel ou Pasolini o foram (e quantos 'filmes heréticos' não foram reconhecidos pela Igreja pelo seu valor?), ou se é profundamente sóbrio e circunspecto com o assunto que se tem em mãos.

Agora assim, não. Ficar 'a meio', à espera da escandaleira, da lágrima ao canto do olho pelo padre dividido, é erro de palmatória. E se esse caminho se relaciona, tal como este filme tenta fazê-lo a medo, com o chiste antisemita, então aí está-se a tocar na abjecção. O resultado de "In the Name of..." é igual ao de tantos outros que se meteram pelo mesmo caminho: na sua tentativa de despertar consciências contra a condenação, é o filme que acaba por condenar-se a si próprio.