É pela mãos da francesa Rebecca Zlotowski que se cria um notável casal de cinema, o melhor que o seu “Vie Privée” tem. O filme passou fora de competição e o casal é composto por Jodie Foster (a regressar ao cinema francês) e Daniel Auteuil, sessentões separados que se voltam a apaixonar numa nova fase da vida. O filme é uma divertida variação policial com uma psiquiatra a tentar descobrir a razão pela qual uma das suas pacientes (Virginie Efira) comete suicídio, começando a perceber que poderá ter havido, afinal, um assassinato.
O que interessa de facto no filme é a forma como aquele casal que volta a apaixonar-se nos toca profundamente, como se de um reflexo se tratasse dos nossos pecados, falhas e achados. Ao reconciliarem-se há quase como uma porta escancarada para aderirmos ao princípio da salvação. Isto por entre um mistério explorado com graça e infinita elegância. Depois, obviamente, a química dos dois, Daniel Auteuil e Jodie Foster, atores a desfrutarem de personagens charmosas e com uma ternura quebrada que é incomensuravelmente humana, real. Bebem vinho, petiscam, fazem amor e lembram-se que ainda podem ser felizes.
Ontem, no Palais Lumiére, sentiu-se que aquela ovação de pé era sobretudo para eles. Deu para ficar com pele de galinha.