A escocesa Lynne Ramsay é um daqueles casos de adoção de Cannes. Toda a sua carreira foi seguida em torno da seleção dos seus filmes neste festival, mas continuam a ser os seus primeiros títulos os melhores cartões de visita, nomeadamente “Ratcatcher” e “A Viagem de Morvern Callar”. Ontem foi exibido “Die My Love”, produzido por Martin Scorsese e com Jennifer Lawrence e Robert Pattinson como protagonistas, e na sessão de imprensa chegou a haver apupos. Pode mesmo falar-se em trambolhão: este psicodrama sexual sobre depressão pós-parto é uma trapalhada de registos, filmado com tiques pretensiosos à beira do ridículo.
A história envolve um jovem casal que se instala numa casa de campo perto de Nova Iorque. No começo tudo é idílico: ele quer fazer um álbum, ela quer escrever. Mas cedo surge uma gravidez e uma enorme depressão pós-parto de ambos. Segue-se a infidelidade e uma depressão que os transformam em corpos tóxicos. Lá de fora, chegam ruídos estranhos e criaturas do bosque. Entra-se na zona da alucinação e o filme perde o rumo, mesmo quando Ramsay parece ágil com ideias de montagem frenética. “Die My Love” é sobretudo um projeto de vaidade para os atores: Pattinson faz todas as caretas possíveis para convocar angústia e nem Lawrence, mesmo com a nudez nada glorificada, pode fazer algo com a personagem, mesmo quando tem momentos incríveis na cena com Nick Nolte ou quando rasteja em pose animal. Aliás, essa animalidade era a ideia frontal do projeto: uma alegoria de como a falta de desejo sexual nos transforma em animais. Pena esta bicharada ser só fumaça, aqui nada é autenticamente perturbador.