Exclusivo

Cinema

O western de Almodóvar

Pedro Almodóvar aponta a objetiva da câmara ao western para uma curta-metragem inteligente mas distante dos melhores momentos do seu cinema

Pedro Pascal (à esq.) e Ethan Hawke protagonizam “Estranha Forma de Vida”, curta-metragem que tem como título o célebre fado de Amália Rodrigues

Três anos após “A Voz Humana”, Almodóvar regressa às curtas com um filme coproduzido pela Saint-Laurent (também responsável pelo guarda-roupa) que se propõe revisitar um género com o qual, até hoje, o cineasta não tinha ainda flirtado: o western. À primeira vista, poderá parecer estranho que um dos maiores curadores contemporâneos da herança do melodrama tenha decidido ir por aí. Essa sensação de estranheza diminuirá se recordarmos que, ao longo da sua história, o western viveu muitas vezes paredes meias com o melodrama (das “Almas em Fúria”, de Anthony Mann, ao “Johnny Guitar”, de Nicholas Ray). E mais diminuirá ela se considerarmos que as pulsões homoeróticas recalcadas que permeiam diversos westerns poderiam — pelo menos, em teoria — constituir um terreno fértil para quem, desde o início da sua carreira, se especializou na subversão queer das convenções de género.