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O dia em que 151 miúdos do liceu foram presos no Hospital de Santa Maria: alguns esconderam-se na morgue e outros comeram papel

“Portugal era um país escuro”, onde a polícia rapava o cabelo aos rapazes para os humilhar e, nos liceus femininos, as raparigas chegaram a ser sujeitas à medição da altura das saias antes do início das aulas, todos os dias: a mini saia era moda, todas usavam saias curtas… e isso era era visto como um ato de rebeldia. Para contar como foi a prisão de 151 estudantes do ensino secundário a poucos meses do 25 de Abril, inaugura-se esta segunda-feira, em Grândola, a exposição “Há Sempre Alguém que Diz Não” sobre a revolta dos “intrépidos adolescentes” que lutaram nas ruas e nos liceus pelo direito à reunião, à informação, e a coisas tão simples como vestirem-se como queriam. Estamos na contagem decrescente para os 50 anos da revolução dos cravos. Falta, precisamente, um mês

Imagens da exposição "Há sempre alguém que diz Não" sobre a prisão de 151 estudantes em 1973. Patente ao público na Biblioteca e Arquivo Municipal de Grândola, até fim de abril. Esteve na Torre do Tombo, entre 16 de dezembro e 28 de fevereiro
Tiago Miranda

Na tarde de 25 de março, a um mês de distância dos 50 anos do 25 de Abril de 1974, os estudantes de seis escolas secundárias do concelho de Grândola reuniram-se para ouvir a história de um grupo de 151 miúdos da idade deles que foram presos por fazerem uma reunião em Lisboa, no Hospital de Santa Maria. Por muito mirabolante que o relato dessa detenção possa soar aos estudantes do ensino secundário do concelho de Grândola, os factos são todos verdadeiros e podem ser relatados por (pelo menos) um dos autores do livro “A Urgência da Palavra Impressa. A imprensa dos «intrépidos adolescentes» contra a ditadura (1970-1974)”, escrito por Rui Gomes e Jorge Ramos do Ó. A história que o livro relata é o tema do colóquio que antecede a inauguração da exposição “Há Sempre Alguém que Diz Não”, que conta a história da revolta desses estudantes liceais, e está patente ao público na sala de exposições da Biblioteca e Arquivo Municipal de Grândola até final de abril.

A mostra “reúne o corpo base da exposição que esteve na Torre do Tombo e faz parte das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, em Grândola. Também é uma maneira de mostrar o papel do MAAESL (Movimento Associativo dos Estudantes do Ensino Secundário de Lisboa) na defesa da liberdade e no combate à ditadura”, explica ao Expresso, Alcides Bizarro, que trabalha no sector cultural da autarquia alentejana.