Mohamad Jebara tem o nome de um profeta de quem nada sabia até ao início da adolescência. Os pais, libaneses, tinham emigrado para o Canadá nos anos 70 e Jebara cresceu sem que em casa as horas se definissem por um grande ardor religioso.
Os amigos perguntavam-lhe no recreio da escola onde estava a montanha, se já tinha ido à montanha, brincavam com o nome, mas ele não entendia as piadas. Quem era o homem que lhe deu o nome? A pesquisa para escrever aquilo a que chama um retrato intimo do profeta Maomé levou-lhe 28 anos.
Agora, aos 41, diz ter-se reformado como imã, mas continua apostado em ir à origem da religião que professa e defende, para explicar a palavra original ao mundo ocidental, à sua gente, como diz. A obsessão de Jebara é a linguagem. Linguista especializado em línguas semíticas, considera que o extremismo islâmico não passa de ignorância sobre a palavra original de Maomé.
Existem centenas de livros sobre o maior profeta do Islão. Decidiu escrever outro. Que o motivou?
Sim, centenas e centenas. Li todos, ou quase todos, e quando se lê esses livros fica-se com a sensação de não se saber nada sobre este homem. A maioria dos livros só tem um parágrafo sobre os primeiros 40 anos da vida de Maomé: nasceu, a mãe morreu, é isso. A maioria da vida dele, porque só viveu até aos 62, não aparece nestes livros de forma detalhada. Depois vem a parte em que foi profeta. Durante os primeiros 13 anos esteve em Meca e diz-se apenas que foi perseguido pelas suas ideias, um parágrafo ou dois. Chegamos aos 50 anos deste homem e pouco sabemos dele. A única coisa explorada são as batalhas. Saímos destes livros a pensar que é unicamente um guerreiro. Fala-se muito das tribos que existiam na Arábia, um bocadinho da vida familiar, mas nada sobre ele, quem é ? Também há muito sobre os seus milagres, mas nunca achei que o entendesse.