Já são horas de ir para a mesa? Essa é uma das questões existenciais de Obélix, o carregador de menires e devorador de javalis que caiu no caldeirão de poção mágica quando era pequenino. E não lhe falem de obesidade, que se amofina.
O cão ambientalista Ideiafix passeia-se agora com um osso entre os dentes. É de noite e os javalis estão a fumegar, sobre aquela mesa corrida que imaginamos sempre posta. O banquete acontece ao ar livre na irredutível aldeia gaulesa, com o bardo amordaçado e afastado de cena. Como se quer. As histórias de Astérix e Obélix costumam terminar assim, com um banquete, nos livros de banda desenhada de René Goscinny e Albert Uderzo. E há agora um livro de receitas para celebrar a gastronomia sempre presente nestas aventuras. A novidade é relativa, porque muitas personagens e autores de ficção deram origem a livros de receitas. Entre os melhores, já havia por exemplo o livro de receitas “A Comida Baiana de Jorge Amado” (1994), de Paloma Jorge Amado. E também “A Bíblia Contada pelos Sabores” (2007), com receitas de Albano Lourenço enquadradas pelo prefácio “Deus anda pela cozinha”, de José Tolentino Mendonça. “Os Banquetes de Astérix” (2021) junta-se agora aos bons exemplos, com 40 receitas inspiradas nas viagens de Astérix e Obélix. E com textos do cozinheiro e estrela televisiva Thibaud Villanova e fotografias de Nicolas Lobbestaël. As fotografias deixariam Obélix com água na boca, a cada virar de página. As receitas foram escritas de forma detalhada e estão enquadradas no imaginário dos heróis gauleses, com comentários como o que acompanha a receita de borrego assado: “Embora seja difícil de acreditar, existem outras carnes além do javali. O carré de borrego, acompanhado de um molho com hortelã bem suave e aromática, ser-lhe-ia servido em todas as boas estalagens bretãs com um pouco de cerveja morna.”