A lista de recordes que Adele tem batido desde a sua estreia em 2008 é tão extensa que daria para várias edições desta rubrica. ‘Easy on Me’, o primeiro single do novo álbum, bateu recordes no Spotify, no YouTube e até na velhinha rádio. Numa época em que a indústria musical sofreu transformações profundas que alteraram o modelo de negócio e obrigaram os artistas a reinventarem-se, a cantora britânica, sem demasiado espalhafato visual, apoiada na voz poderosa e numa aura intangível de grande diva, mostrou como se faz, desbravou o caminho e, a cada novo álbum, redefine a noção de sucesso na era digital. Apesar de sobressair, Adele não está sozinha. Nas duas últimas décadas, artistas como Beyoncé, Taylor Swift, Ariana Grande, Lady Gaga, Britney Spears, Miley Cyrus ou Rihanna puseram as artistas femininas em primeiro plano com sucessos transversais capazes de chegar às adolescentes sem alienar o público mais adulto e, ainda mais importante, alcançando respeitabilidade artística. Mais do que a lição das grandes divas dos anos 90, parecem seguir a cartilha de Madonna, uma espécie de matriarca das gerações seguintes, a figura tutelar que, mesmo assim, continua em atividade e a inovar.
É certo que, de um ponto de vista estético, Adele tem um ADN diferente, mas é difícil imaginar a atual paisagem musical, dominada por mulheres fortes e senhoras dos seus projetos, sem o papel revolucionário da rapariga que alcançou o topo da tabela de vendas pela primeira vez com ‘Like a Virgin’, em 1984. No entanto, Madonna ficou muito longe de ser a primeira mulher a alcançar o número 1 da “Billboard”. A honra coube à cantora de ascendência italiana nascida em Newark, Connie Francis, em 1960, com a canção ‘Everybody’s Somebody’s Fool’. Desde a criação do Hot 100 da “Billboard”, a principal tabela de sucessos musicais nos Estados Unidos, dois anos antes, nenhuma artista feminina a solo tinha ocupado o primeiro lugar. E, no início da carreira de Francis, tudo indicava que não seria ela a alcançar a proeza porque as primeiras canções que gravou foram fracassos de vendas. Na altura ainda se apresentava com o nome de batismo, Concetta Franconero, ou com o mais americanizado Connie Franconero, mas nem isso lhe valia. Foi uma canção de 1923, e de que Connie Francis nem gostava muito, ‘Who’s Sorry Now?’ (que viria a ser o título da sua autobiografia), que lhe mudou a vida. A canção, ainda hoje a que mais facilmente se associa à intérprete, foi nº 1 em Inglaterra, mas ficou-se pelo quarto lugar nos Estados Unidos, no ano de 1958. Em julho de 1960, Francis fez então história quando ‘Everybody’s Somebody’s Fool’ chegou ao primeiro lugar da tabela, onde permaneceu duas semanas, após destronar os Everly Brothers.