Maria Antónia de Assis dos Santos (Costa do primeiro casamento e Palla do segundo, apelido com que se firmaria no jornalismo) evoca os avós paternos com a mesma paixão que estes dedicaram à menina nascida numa família onde tradicionalmente abundavam os rapazes: “Fala-se pouco da importância de crescer numa família laica e republicana, mas fez muita diferença”, foi uma das primeiras coisas que disse ao Expresso no início da conversa sobre o livro “Relógio de Cuco”, segundo volume da coleção Autorretratos, que homenageia mulheres portuguesas que se destacaram na luta pela liberdade e pelos direitos humanos e, em particular, das mulheres.
O título desta breve história autobiográfica, escrita durante a pandemia, mais não é do que a memória do medidor de tempo que existia em casa dos bisavós do primeiro-ministro António Costa.
A incansável feminista e jornalista Maria Antónia Palla é, antes do mais, uma mulher que lutou pela liberdade e pelas causas em que acredita. É também a mãe de um menino que nasceu em julho de 1961 e que tem hoje uma vida muito atarefada, por ser chefe do Governo: “Agora vejo-o pouco”, desabafa, naquele tom próprio das mães octogenárias. Mas o rosto ilumina-se-lhe quando fala de um “miúdo muito esperto e desembaraçado. Falávamos sobre tudo, bem quase tudo”, assegura.