Em dezembro de 2008, Alfred Brendel deu o último concerto. Aconteceu em Viena, no Musikverein, a sala onde quase seis décadas antes havia tocado pela primeira vez, aos vinte anos e com um prémio no Concurso Ferruccio Busoni acabado de ganhar. Para a despedida, o pianista escolheu um Concerto de Mozart, esse compositor-chave da sua constelação de preferências, de que gravou todos os concertos sob a batuta de Neville Marriner, e cuja abordagem exige mais contenção e sensibilidade do que virtuosismo exibicionista. Brendel retirava-se para sempre, mas só dos palcos, não da arte. Desejava passar de vez para outro registo, aquele que há muito constituía a sua “segunda existência” — o da palavra. Daria conferências, conversas, escreveria ensaios e poemas que se somariam aos já escritos, num conjunto considerável de textos sobre música, sobre interpretação, sobre arte, sobre o piano, além de várias coleções de poemas.
“Por mais que aprecie um bom piano, nunca fui um maníaco do piano”, confessa ele ao Expresso. “Considero-me primeiro um músico, e não vejo a música para piano como um enclave para solistas”
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