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Expresso

Cultura

“Era uma vez em... Hollywood”: Com Tarantino, o lança-chamas

Num filme em que o próprio cinema é uma arma de arremesso, o cineasta está prestes a regar-se com combustível altamente inflamável. Nomeado para 10 Óscares

Francisco Ferreira

Em "Era Uma Vez... em Hollywood", diz Quentin, "há um bocadinho de todos os meus outros filmes." Contudo, não é fácil desenlear este novelo e daí retirar resultados conclusivos. O que quer o cineasta dizer ao certo? Onde está, em "Era Uma Vez...", esse 'espelho retrovisor' de uma carreira que se aproxima agora dos 30 anos de existência e dos 10 filmes que Tarantino, em tempos, afirmou querer concluir - foi decerto um sainete igual a tantos, esperemos que ele faça mais... - antes de abandonar o cinema? Podemos pegar na questão dos géneros, mas não creio que esse gancho ajude. "Era Uma Vez..." não é o heist movie declarado que explodia em "Reservoir Dogs". Não tem a criptonarrativa de "Pulp Fiction" nem a palavra fuck repetida 265 vezes.

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Não é um estudo de personagem como foi "Jackie Brown" (o protagonismo de "Era Uma Vez..." é dividido entre Pitt e DiCaprio em igual medida), não tem o espírito aventureiro de folhetim dos dois "Kill Bill", tão-pouco a verve, o nervo e a velocidade (as corridas de carros) de "Death Proof". Não é também filme - e pese embora a exímia qualidade dos seus diálogos - em que o verbo palpite com a força bruta de "Django Unchained" (ainda a melhor 'peça literária' alguma vez saída da pluma de Quentin), nem história tão desenfreadamente hateful, tão olho por olho dente por dente, como "The Hateful Eight" provou ser.

E, contudo, saltámos a obra de 2009, "Inglourious Basterds", e o assunto aqui muda radicalmente de figura. "Era Uma Vez..." mantém uma ligação tácita com aquela obra e Tarantino tem plena consciência disso e até o sublinha. Num dos episódios (não é spoiler, aparece cedo no filme) que nos contam o presente de Rick Dalton e a sua vida nos bastidores das séries de TV que ele interpreta, vemo-lo a "assar nazis" com um lança-chamas numa cena que, sem dificuldade, poderia ter feito parte do desfecho do filme realizado há dez anos e em que, recorde-se, a projeção de um filme em sala acabava em crematório de toda a elite nazi, Hitler incluído. Tarantino é um cineasta da vingança. Por nove vezes se aproximou dela nos seus nove filmes até à data e com nove diferentes graus de intensidade. Mas só em "Inglourious Basterds" e em "Era Uma Vez..." fez ele do próprio cinema, do seu ritual, uma arma de arremesso.

Há muitos combates neste novo filme. A encarnação da figura de Sharon Tate é um deles. O combate mais evidente é o de Rick Dalton com Hollywood. Rick sabe que não lhe pertence, sofre por isso, está mortinho por agarrar uma oportunidade e deixar as séries de TV. Mas os bastidores das séries são a sua realidade. O 'seu tiro no próprio pé' (e não se fala de pés por mero acaso: Tarantino, como se sabe, é um 'podólogo encartado'). Hollywood, como já se escreveu em Cannes, está em 1969 a 'caminhar para a Babilónia' a velocidade vertiginosa, em sintonia com as novas vagas do resto do mundo (abrindo caminho à New Hollywood já lançada por "Bonnie e Clyde" e aos Movie Brats: Coppola, Scorsese, De Palma...).

Mas não é com esses novos filmes e novos realizadores que aquele 'cowboy de segunda', demasiado severo com ele próprio, ainda sonha. É que Rick quer singrar numa Hollywood que entretanto desapareceu sem que ele se tenha dado conta. Veja-se o absoluto desprezo dele pelo western spaghetti no momento em que o seu agente, Marvin Schwarzs (Al Pacino), lhe oferece às tantas uma oportunidade de ir para Itália filmar com Leone, sugerindo-lhe que talvez a Cineccità lhe abra a porta que Los Angeles continua a fechar-lhe. "Uma imitação", desabafa Rick. Veja-se o desdém do duplo Cliff, veterano de guerra que só pode ser a do Vietname, pelos hippies que se amontoam nas ruas de Los Angeles e a sua reação a Dennis Hopper. No verão daquele mesmo ano de 1969, Hopper iria estrear a sua primeira obra como realizador, "Easy Rider", filme hippie por excelência. O título de Tarantino é irónico porque o "Era Uma Vez..." a que ele depois acrescenta "em Hollywood" não se passa nela. Hollywood, para Rick e para o filme - quem sabe se para Quentin também - é o sonho que está ao lado. São os vizinhos inacessíveis da mansão de Cielo Drive em que vivem Roman Polanski e Sharon Tate. E são os sonhos da criança de seis anos que Tarantino tinha no ano em que o filme decorre - e que ele exemplarmente aborda na entrevista.

É importante frisar isto: a 'cegueira' de Rick perante o seu tempo, os seis anos de idade de Quentin. Houve quem não os tivesse considerado quando "Era Uma Vez..." foi atacado, logo em Cannes, a um nível político - que não é, de todo, um aspeto secundário da obra. Vamos por partes. 1969 é um ano fulcral na história dos Estados Unidos: Nixon está no poder, o Homem chega à Lua, as revoltas estudantis e os protestos contra o Vietname ao rubro. Pouco ou nada disto passa pelo filtro de Tarantino. Por fim, há os homicídios da 'Família Manson' em 9 e a 10 de agosto, o "Helter Skelter" que o bando batizou a partir da canção dos Beatles, e aqui, não haja dúvidas: Tarantino está prestes a regar-se com combustível altamente inflamável. O assunto é tão grave, tão sombrio e irracional (não só os homicídios como todo a loucura no processo que se seguiu), tão dado a mistérios e a teorias da conspiração de toda a ordem que se equipara, se é que não supera, o caso do assassínio de J.F.K na história da América da segunda metade do século XX. Ora, não faltou quem, e com conhecimento de causa, apontasse o dedo a Tarantino e à representação superficial dos assassinos de Spahn Ranch no filme. Meia dúzia de dias após Cannes, Emmanuelle Seigner, mulher de Polanski, levava no Twitter a indignação para o campo privado (do marido) e deixou palavras duras a um filme que, provavelmente, ainda nem vira: "Como podes tirar partido da trágica vida de alguém?" Mais tarde, foi a filha de Bruce Lee a acusar o "extremo desconforto" da representação do pai, que ela julgou caricatural.


O que é curioso notar é que todas estas chamadas reagiram contra o filme a partir de uma caução que vem da realidade. E perguntamo-nos: mas não é afinal com a realidade que Tarantino trava a sua batalha mais sangrenta? A propósito de "Era Uma Vez... em Hollywood", é vital falar de 'fanatismo'. Coloco o substantivo entre aspas e já perceberão porquê. Tarantino precisou disso para fazer o que fez. Precisou de ser fanático pelo poder do cinema, na exata e extrema medida que a 'Família Manson' o foi na sua execrável ideologia. Tudo o que está em causa em "Era Uma Vez...", se o quisermos reduzir ao osso, é isto: há um combate mortal entre a ficção e a realidade e, desse combate, só uma delas poderá escapar com vida. Há filmes assim, são raros mas existem. O desejo leva--os a um estado de transcendência. Pegam na História, mas não ficam do lado dela. E gelam a espinha.

ERA UMA VEZ... EM HOLLYWOOD
De Quentin Tarantino
Com Leonardo DiCaprio, Brad Pitt, Margot Robbie (EUA/Reino Unido/China)
Comédia dramática M/16

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