Confesso que me choca a falta de curiosidade e interesse dos melómanos portugueses (e americanos) pela música do nosso tempo. Ainda recentemente um amigo me dizia que achava o “Wozzeck” (1925), de Alban Berg, um osso duro de roer — uma ópera quase centenária que vi no São Carlos (em estreia) há mais de 60 anos e pela qual me apaixonei. Vem isto a propósito do prazer que foi ver o Grande Auditório da Gulbenkian praticamente cheio e um público entusiasta a aplaudir “The Sleeping Thousand” (2019), de Adam Maor (n. 1983), um dos mais recentes produtos da ENOA (a Rede Europeia de Academias de Ópera que integra a Gulbenkian-Música).
Revelo já que é uma ópera de câmara modelar — quatro cantores solistas, oito instrumentistas e música eletrónica desenhada por Augustin Muller — onde a música se funde com a poesia e com o ritmo fonético do libreto (em hebraico) num todo harmonicamente sublime. Creio que será preciso recuar até Benjamin Britten ou mesmo até Leos Janácek para encontrar uma consonância do mesmo quilate. Significativamente, a ópera foi acertada numa residência do compositor e do libretista, Yonatan Levy (n. 1974) — que é também o esplêndido encenador da ópera — em Snape Maltings, o paraíso artístico reencontrado e recriado por Britten e Peter Pears em Aldeburgh, no condado de Suffolk.
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