Gaston Leroux foi famoso na sua época. Nasceu em 1868 e morreu em 1927, em França. Foi advogado, jornalista e herdou imenso dinheiro, que esbanjou alegremente. A partir de 1907 decidiu ser escritor. Escreveu muitas histórias policiais, muitas aventuras de horror e mistério, principalmente. A notoriedade veio depressa, com “O Mistério do Quarto Amarelo” (1908). Hoje, a sua obra mais conhecida é “O Fantasma da Ópera”, mas infelizmente, nem sequer por causa do filme mudo de 1925, com Lon Chaney, mas graças a um horror musical engendrado por Andrew Lloyd Webber, o famigerado “Phantom of The Opera”.
Gaston Leroux era um grande estilista. O seu conto “O Jantar dos Bustos”, de que parte o espetáculo de Bruno Bravo, começa exemplarmente: “O capitão Michel só tinha um braço que lhe servia para fumar cachimbo.” Isto é dito pelo narrador que introduz não apenas o capitão Michel — Michel Alban, como mais tarde saberemos — como desencadeia todo o dispositivo que permite que o capitão conte a sua história, numa reunião com outros ‘lobos do mar’, em que o nosso narrador, claro, está presente. Todos tinham viajado, estavam reformados, e “passavam o tempo a contar histórias de apavorar!”. Menos o capitão Michel. Um dia, tão instado pelos outros, ele aí vai: “Vou contar-vos como perdi o meu braço!” É uma história de naufrágio e de sobrevivência, de jangadas, de sevícias várias, físicas e morais — os bustos são homens sem pernas nem braços — na qual entra ainda uma lindíssima mulher e existe um reencontro entre dois velhos amigos.
Bruno Bravo utilizou quatro intérpretes em cena, António Mortágua, Carolina Salles, Joana Campos e Miguel Sopas, além de um narrador em off, Marco Delgado. Essenciais são, ainda, o cenário de Stéphane Alberto, as luzes de Alexandre Costa e a música — música original e sonoplastia — de Sérgio Delgado.