Carta Elétrica

Tudo o que precisa de saber para carregar o carro em casa

Particulares. No amor, diz-se que basta uma cabana. Mas para carregar um carro elétrico, por agora, só numa moradia ou num prédio com garagem. O problema é que apenas 50% dos prédios em Portugal têm garagem. Guie-se por aqui

Posso carregar o carro em casa?

Só se viver numa moradia — com ou sem garagem — ou num prédio com garagem. Se não, tem de usar a rede pública na rua. Note que os carros trazem um cabo para carregar em casa e outro para os postos de rua.

A conta da luz vai aumentar?

Claro, mas vai deixar de pagar combustível, e carregar um carro em casa é mais barato do que na rua (ver infografia).

Tenho uma moradia, posso usar as tomadas da casa?

Sim e não. Tem de saber se a tomada onde vai ligar o carro tem um circuito dedicado, ou seja, se no quadro elétrico tem um disjuntor próprio que diz, por exemplo, “tomada da garagem”. Se sim, então pode usar, mas com cuidado. O carregador que o carro traz para usar em casa tem uma potência de 2,3 kW, o que significa que a energia que passa da tomada para o carro é pouca e, por isso, demora mais a carregar. Se quiser carregar 80% ou 100% da bateria, o carro vai ficar ligado 12 horas ou mais e pode aquecer muito e derreter a tomada. Há técnicos que alertam para o risco de incêndio e desaconselham usar esta tomada, mesmo com circuito dedicado. Outros dizem que esse risco é baixo, porque os cabos têm sensores de temperatura que reduzem ou cortam o carregamento se a tomada aquecer.

É preciso carregar o carro sempre a 100%?

Não. Tal como não é preciso meter gasolina ou gasóleo todos os dias. Aliás, até pode danificar a bateria. As métricas europeias dizem que a maioria das pessoas faz 40 a 50 km nas suas deslocações diárias, seja num carro elétrico ou a combustível. Carregar 40 a 50 km, mesmo com o cabo de baixa potência que vem no carro, demora umas duas horas, logo, o risco de a tomada aquecer é muito mais baixo.

Há outras opções para carregar em casa?

Uma delas é uma tomada industrial, daquelas com uma tampa, que não aquecem e com a qual pode deixar o carro a carregar a noite toda até aos 100% que não há risco nenhum. Traz ainda um cabo com maior potência, que carrega mais depressa. Além da tomada, tem de instalar um circuito e disjuntor dedicados no quadro elétrico, custando tudo uns €300. A outra opção é um carregador de parede. São indicados para garagens, interiores ou exteriores, e carregam a potências maiores (ver infografia); aliás, aqui pode usar o cabo que o carro traz para usar nos postos públicos. Isto significa que vão carregar ainda mais depressa; por exemplo, para 50 km basta uma hora.

Os carregadores são todos iguais?

Há uma versão simples, mais barata, e a única diferença face às tomadas industriais é ter potências superiores e, por isso, carregar mais depressa. E há uma versão digital, mais cara, que tem um software que permite, entre outras funções, programar a potência, a quantidade e a hora a que se quer carregar e até parar de carregar; por exemplo, parar quando a máquina estiver a lavar roupa e retomar quando ela acabar.

Quanto custam?

Os preços começam nos €500 e podem ultrapassar os €1000, de acordo com os sites das marcas que o Expresso consultou. Mas dá para pagar a prestações.

Qual é o carregador mais indicado para mim?

Se comprar o simples, escolha um com um máximo de 7,4 kW, porque a maior parte dos carros que se vendem não carrega a mais que isso. Tem também de ver qual a potência do seu contador, para o quadro não ir abaixo quando estiver a carregar o carro. Uma moradia tem 10,35 kVA, o que é suficiente, mas se tiver menos do que isso é aconselhável pedir mais potência à E-Redes. É gratuito e se o contador for inteligente até o pode fazer por telefone, mas depois fica a pagar mais por mês. Se comprar o carregador mais caro, como pode escolher a potência a que quer carregar e as horas a que o vai fazer, tem menos risco de o quadro ir abaixo, mesmo se tiver menos de 10,35 kVA.

Moro num prédio recente, com garagem. Como faço?

A tomada que existe junto ao seu lugar — comum ou individual — tem de estar, por lei, ligada à conta da sua casa e não ao contador do prédio, ou seja, usa a eletricidade do condomínio mas o consumo a mais vai parar à sua conta da luz e não à do prédio. Mesmo assim, pode querer instalar a tomada industrial ou o carregador de parede para carregar mais rápido, e aí é obrigado a informar o condomínio, de acordo com o decreto-lei 90/2014. Pode ser recusado “quando a instalação do ponto de carregamento ou tomada elétrica coloque em risco efetivo a segurança de pessoas ou bens ou prejudique a linha arquitetónica do edifício”. Há mais detalhes sobre a lei no site da Associação dos Utilizadores de Veículos Elétricos.

E se for um prédio mais antigo, com garagem?

Vai estar a usar a eletricidade do prédio, e o consumo a mais vai parar à conta do condomínio, por isso, quer use a tomada normal que está na garagem, a tomada industrial ou um carregador simples, vai ter de acordar com o condomínio uma forma de pagar esse consumo extra. Pode é comprar o carregador digital, que permite carregar um montante na conta do prédio, que depois vai descontando automaticamente. Seja qual for o equipamento, tem sempre de instalar o disjuntor próprio, neste caso, no quadro elétrico do prédio, e ter um serviço, pago mensalmente, que faz a gestão dos consumos e dos pagamentos numa aplicação. E, claro, tem de informar o condomínio.

O quadro elétrico do prédio aguenta estes carregadores?

Um prédio tem uma potência superior a 40 kVA para suportar a iluminação e os elevadores, por isso há margem para carros elétricos. O problema é se — e quando — muitos ou todos os inquilinos instalarem tomadas ou carregadores e quiserem carregar o carro ao mesmo tempo, quando chegam a casa à noite. Neste caso, os técnicos recomendam os carregadores digitais, porque dão para programar a hora a que cada carro carrega, consoante os quilómetros que querem carregar e a hora a que vão sair de manhã. Assim, o quadro do prédio não dispara nem é preciso reforçar a potência, que poderia obrigar a E-Redes a fazer investimentos e, consequentemente, ser muito dispendioso. Nessa altura, o próprio condomínio pode optar por pagar os carregadores e todas as ligações necessárias e, depois, dividir o preço por todos os condóminos, porque todos, um dia, terão carro elétrico.

Textos originalmente publicados no Expresso de 27 de novembro de 2021