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“Agricultura inteligente” e baseada em dados é chave para a transição energética

Tornar a agricultura mais amiga do ambiente é ainda um desafio, mas para Miguel Neto, ex-secretário de Estado do Ordenamento do Território e da Conservação da Natureza, não existe “bala de prata” que resolva o problema. As soluções serão múltiplas e assentes em tecnologias que permitam tomar decisões informadas e que contribuam para maior eficiência das explorações. Os passos a dar no sentido da transição agroenergética estiveram em debate no ciclo de Conversas Terra a Terra, organizado pela Associação dos Jovens Agricultores de Portugal (AJAP) com o Expresso como media partner

A agricultura representa apenas 3% dos consumos de energia a nível nacional, mas 81% ainda “são combustíveis fósseis”, começou por explicar Firmino Cordeiro, diretor-executivo da AJAP, referindo ainda a urgência de tornar o sector “mais autossuficiente em energia elétrica”. Face ao retrato traçado, Miguel Neto, ex-secretário de Estado do Ordenamento do Território e da Conservação da Natureza, reconheceu que o fóssil, nomeadamente o gasóleo agrícola, continua a ser um dos obstáculos à transição, mas acredita que as soluções passarão pela “agricultura inteligente e com maior capacidade de recolher dados”.

A mudança de paradigma na gestão e planeamento é um primeiro passo, mas urge também promover iniciativas “no campo da eficiência”, nomeadamente com tecnologias como a inteligência artificial para apoiar a tomada de decisão. Ainda assim, o “custo das tecnologias envolvidas” continua a pesar, pelo que são necessárias “iniciativas públicas para minimizar” as dificuldades de investimento, referiu o também diretor da Nova Information Management School.

A transição para as energias renováveis “tem sido cara, mas entre 2010 e 2023 o custo já decresceu 83%”, apontou Aline Hall de Beuvink, professora universitária e comentadora da SIC Notícias. A aposta deve continuar, mas com a ligação de várias estruturas, incluindo a academia, com um papel importante na ciência e investigação e “fundos como o PRR”. No entanto, a utilização de “ferramentas modernas” implica capacitação e não chega “ter dinheiro para distribuir” se os agricultores não tiverem informação.