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Descobrir as 100 oliveiras de Saramago no berço ribatejano do prémio Nobel da Literatura

O Estado Novo distinguiu a Azinhaga como a “Aldeia Mais Portuguesa do Ribatejo”. Hoje, é José Saramago, o Nobel da Literatura que ali nasceu em 1922, a razão para grande parte das visitas a esta localidade do concelho da Golegã. 100 oliveiras, com nomes de personagens criadas pelo escritor, ajudam a folhear a obra de Saramago

Azinhaga, no concelho da Golegã
Junta de Freguesia de Azinhaga

No dia 18 de Setembro de 1938, em concurso promovido pelo então Secretariado da Propaganda Nacional, a Azinhaga, foi considerada a “Aldeia Mais Portuguesa do Ribatejo”. Por esses dias, o mais ilustre dos nascidos nesta pequena localidade do Ribatejo tinha apenas 16 anos, mas já ali não vivia. “Foi nestes lugares que vim ao mundo, foi daqui, quando ainda não tinha dois anos, que meus pais, migrantes empurrados pela necessidade, me levaram para Lisboa, para outros modos de sentir, pensar e viver, como se nascer eu onde nasci tivesse sido consequência de um equívoco do acaso, de uma casual distração do destino, que ainda estivesse nas suas mãos emendar (…) Só eu sabia, sem consciência de que o sabia, que nos ilegíveis fólios do destino e nos cegos meandros do acaso havia sido escrito que ainda teria de voltar à Azinhaga para acabar de nascer”.

É assim que José Saramago, Nobel da Literatura, se refere à aldeia que o viu nascer no dia 16 de novembro de 1922. O centenário do nascimento, em 2022, serviu para a pacata Azinhaga (do Ribatejo) ver a plantação da centésima oliveira que imortaliza o escritor e que recebeu o nome da avó materna, Josefa Caixinha. Em frente, está uma outra com o nome do avô de Saramago, Jerónimo Meirinho, no largo do “Lagarto Verde”, onde se encontra um painel com um excerto das “Pequenas Memórias”. As restantes 98 oliveiras, ao longo da avenida Victor Manuel da Guia, receberem o nome de personagens saramaguianas. Percorrer esta alameda é como folhear a obra do escritor.

Delegação da Fundação José Saramago, na aldeia de Azinhaga
Fundação José Saramago

Seja pelas memórias associadas ao Nobel da Literatura, seja para descobrir porque é considerada a “Aldeia Mais Portuguesa do Ribatejo”, impõe-se uma visita à Azinhaga (do Ribatejo), no concelho da Golegã, nas margens do rio Almonda. Para ajudar à descoberta foi criado o roteiro "José Saramago na Azinhaga", uma iniciativa que integrou o programa do Centenário do nascimento do Nobel da Literatura. A principal atração é a delegação da Fundação José Saramago, onde, por curiosidade, se encontra exposta a cama onde dormiam os avós, e a que o escritor fez referência no discurso em que recebeu o Prémio Nobel. Atente na recriação da arca azul, onde os avós guardavam favas e que, relata o escritor na autobiografia, estava forrada com folhas do jornal “O Século”, que o autor considera como a primeira ligação com mundo das palavras. Fotografias de família e livros do autor em vários idiomas constituem o espólio desta delegação da fundação, que promove ateliês e workshops sobre a obra de Saramago. A entrada é gratuita.

Alameda das 100 oliveiras
Fundação José Saramago

No largo da Praça observe a estátua de bronze do escritor e, porque a natureza inspira sempre a arte, percorra os passadiços do rio Almonda, muitas vezes referenciado em “As Pequenas Memórias”. Hoje, ao longo do curso de água os passadiços convidam a um passeio ribeirinho, entre o arvoredo e os painéis de azulejos com citações de Saramago. Visite ainda o miradouro e a capela de São João da Ventosa. Tome nota na agenda: em maio decorre a tradicional Festa do Bodo, que apenas se realiza de quatro em quatro anos.

Estátua de José Saramago
Junta de Freguesia de Azinhaga

Paul do Boquilobo

A curta distância da Azinhaga, mergulhe na Reserva Natural do Paul do Boquilobo. Vista roupa de cores discretas, calçado adequado e pegue nos binóculos. Está pronto a fazer o percurso pedestre circular do Paul do Boquilobo, um pequeno paraíso natural às portas da Golegã, que é Reserva da Biosfera da UNESCO. O caminho, de pouco mais de 5 km, pode também ser feito de bicicleta e dá a conhecer a fauna e flora locais, com destaque para as aves migratórias e aquáticas (mais de 200!), nomeadamente garças brancas, cegonhas, patos e, com sorte, uma águia pesqueira. No caminho até ao Centro de Interpretação da Reserva é, igualmente, muito provável que se cruze com manadas de cavalos e outros animais.

Paul do Boquilobo
CM Golegã

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