Antes pelo contrário

A justiça não cabe numa manchete?

A corrupção é um dos elementos mais corrosivos das democracias. Mas o combate ao crime de corrupção não pode ser o único critério de avaliação da justiça. Sobretudo quando se baseia no efeito mediático de investigações e acusações e não nos seus reais resultados (condenações). É um convite a uma justiça performativa

Começo pelo que costuma estar no fim: adoro a adversativa “mas” e deixo de ouvir alguém quando, a qualquer momento, contesta a sua utilização. Sem “mas” tudo é estúpido, binário, simplista. Não há praticamente nenhuma afirmação que não possa e não deva ser sucedida por um “mas”. E a moda de julgar quem usa o inteligente “mas” como alguém que transige é um convite à fanatização dos debates. Dizer “mas” não é diminuir a importância do que se disse, é acrescentar outras coisas importantes ao importante que se disse. É explicar que as coisas raramente são tão simples como parecem.

A corrupção é um dos elementos mais corrosivos das democracias. É causa e consequência da desigualdade no acesso aos bens públicos e à lei. E mesmo quando ela diminui, graças a uma maior eficácia da justiça, somos confrontados com o paradoxo da visibilidade: mais combatida e mais condenada ela torna-se mais evidente e, do ponto de vista político, ainda mais nociva para a democracia. Estou a insinuar que há hoje menos corrupção em Portugal do que havia nos anos 70, 80 e até 90? Não tenho a menor dúvida em afirmá-lo. A corrupção era capilar, endémica a toda a sociedade. Era, aliás, praticamente impossível ter qualquer relação com o Estado (e não só) sem ser confrontado com ela. Desde o pagamento de impostos a um pequeno licenciamento, desde um exame de condução a uma multa de trânsito. Hoje, isso existe de uma forma menos generalizada.

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