Paulo Portas despede-se sem nunca ter chegado a ser o que ambicionava ser para a direita. Apesar de ter dividido com Cavaco Silva o papel de figura marcante da direita nacional nos últimos 40 anos. Acabou por se ficar sempre pelo número 2 de números 1 medíocres – Barroso e Passos. A grandeza intelectual e carismática de Portas foi sempre contida pela pequenez sociológica e política do CDS, o que o levou a procurar nichos eleitorais – os ex-combatentes, os “lavradores”, os “espoliados”, os antieuropeístas conservadores, os liberais europeístas. E este exercício de transfiguração identitária, para se adaptar às aflições eleitorais do CDS e à indefinição ideológica do PSD, acentuaram, por vezes até ao risível, o seu traço de farsante, que ia representando papéis diferentes que se contradiziam entre si.
Sempre aquém do papel para o qual estaria predestinado, Portas sempre teve dificuldade em abandonar o palco. Achou sempre que era cedo demais. Quando saiu pela primeira vez da liderança, ao fim de três meses estava a bombardear o sucessor eleito Ribeiro e Castro. E passou os dois anos seguintes a fazer tudo para regressar ao poder no partido, que tinha abandonado pelo seu pé. Quando anunciou a sua saída irrevogável do governo de Passos Coelho voltou atrás poucos dias depois. Estes episódios, mais do que a sua longevidade, desgastaram-no. Portas gastou a sua palavra mais do que a sua imagem.
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