Perante o resultado de Edgar Silva, desenvolveu-se uma nova tese, sobretudo vinda de comentadores da oposição ao governo: o PCP já está a pagar pelo apoio à “geringonça”. Só que para fazer esta afirmação, atribuindo a isso o catastrófico resultado de Edgar Silva, seria preciso dizer para onde foi esse voto. Para um candidato mais à esquerda? Não havia. Para a abstenção? A análise por círculos não sustenta que tenha sido especialmente superior entre os comunistas. Para candidatos de protesto? Acontece o mesmo do que com a abstenção: onde os comunistas são mais fortes esses candidatos não têm mais votos. Para Marisa Matias? Além de não fazer grande sentido, já que esta apoia o mesmíssimo governo, é residual. Para Marcelo Rebelo de Sousa? Era a única hipótese e é indiscutível que o PCP, como todos, perdeu para Marcelo. A questão é saber se isso foi mais relevante nos comunistas. Não foi.
Olhemos para Alentejo (onde, não por acaso, juntando-se Setúbal, Sampaio da Nóvoa consegue os melhores resultados nacionais) e comparemos resultados de legislativas com presidenciais. Em Beja, o PS teve 37,3%, a CDU 25%, a direita 20,1% e o BE 8,2%. Marcelo Rebelo de Sousa teve 31,7%, Sampaio da Nóvoa teve 31,5% e Maria de Belém 5,1% (juntos, 36,6%), Edgar Silva teve 15,6% e Marisa Matias 11,3%. Podemos verificar que os comunistas perdem quase 10% e que a direita sobe 11%. Os dois candidatos da área do PS têm, em conjunto, um resultado próximo do resultado anterior do PS. Em Évora, o PS teve 37,5%, a direita 23,9%, a CDU 21,9% e o BE 8,6%. Nestas presidenciais, Marcelo teve 38,6%, Sampaio da Nóvoa 30,3% e Maria de Belém 4,1% (34,4% juntos), Edgar Silva 11,5% e Marisa Matias 10,8%. Repete-se o padrão. Só que desta vez os candidatos do PS conseguem menos 3,5% do que o PS, os comunistas perdem 10% e Marcelo tem mais 15% dos votos. Marisa volta a ter um pouco mais do que o BE, coisa que não se verifica no resto do país, onde tem praticamente o mesmo, indiciando alguma conquista de voto comunista. Setúbal repete a mesma lógica.
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