Isto está a ficar um pouco doido demais, medita o escritor, mas não se faz rogado, deixa-a entrar e ali está ela, suave, num tailleur belíssimo, nova aquisição, uns saltos altos pretos de verniz. Uma bela mulher. Chata como o raio que a parta, mas bela. O escritor, por fim, achou-se capaz de compreender Paulo. Carmen era mais que uma personagem plana, oca, neurótica, afinal podia ser todo um universo. Por isso, disse
“Caramba, nunca pensei que fosse assim.”
“Então como é que queria que eu fosse? Foi o senhor quem me escreveu, não foi?”
“Mas não a escrevi assim.”
(Fictiongram é uma ficção iniciada no Expresso Diário no dia 1 de Julho de 2015)