Courrier Internacional

O repto da Europa

Perante o impasse na Grécia e a viragem política em França, que irá fazer a Europa para conciliar crescimento económico e equilíbrio das contas públicas? Saiba mais na edição de Junho do Courrier Internacional, hoje nas bancas.

No mesmo dia em que François Hollande vencia Nicolas Sarkozy, na Grécia as eleições legislativas castigavam os partidos do arco governativo e desembocavam num Parlamento pulverizado e incapaz de formar coligações sólidas. Durante dois anos, só tínhamos ouvido discursos sobre economia, mercados e taxas de juro. É altura de voltarmos a falar de política.

Até porque, desde 2010, já caíram governos (ou Presidentes) em 15 países europeus. O denominador comum é óbvio: penalização dos partidos no poder devido à crise e às medidas de austeridade. Da Hungria à Finlândia, de Espanha  à Dinamarca, do Reino Unido à Roménia, o eleitorado tanto trocou socialistas por conservadores como fez o inverso, centristas e liberais também andaram ao sabor das marés.

A recusa da austeridade pela austeridade

O significado da vitória de François Hollande transcende em muito as fronteiras francesas. Se houve coisa em que o candidato socialista foi claro foi na rejeição da austeridade pela austeridade, salientando a necessidade de haver apostas no emprego, no crescimento económico e nos grandes projetos à escala europeia. De Berlim vieram os primeiros sinais de abertura, com o secretário de Estado do Orçamento de Merkel a ressalvar que não era justo ver os alemães "como os talibãs do liberalismo".

Angela Merkel e François Hollande pensam coisas diferentes politicamente, mas será isso um obstáculo a um entendimento mútuo? Como se refere num dos textos do tema de capa, a sra. Merkel já mostrou ser muito mais pragmática do que alguns dos que a rodeiam. Por outro lado, nos anos 1980, um outro François - Mitterrand - passou a entender-se muito melhor com o seu homólogo conservador Kohl que com o antecessor deste na chancelaria, o social-democrata Helmut Schmidt. Em política, e ao contrário do que dizia Salazar, nem tudo o que parece é.

O lugar da Grécia 

Nesta Europa que vai ter de repensar modelos, princípios e práticas, que lugar fica para a Grécia? Os gregos deram nas urnas um fortíssimo sinal de rejeição da austeridade imposta do exterior e que, dois anos volvidos, nem o problema que se propunha solucionar - o défice - conseguiu resolver. Se uma potência estrangeira tivesse ocupado militarmente a Grécia, não lhe estaria a impor medidas mais gravosas que as atuais.

De resto, convém não perder de vista que o país tem outras alternativas para além da permanência a todo o custo na União Europeia. O historiador britânico Niall Ferguson imaginou um cenário em que a Grécia saía da UE e se tornava na base estratégica russa no Mediterrâneo (perdida a influência de Moscovo na Síria) e no entreposto portuário das exportações chinesas para a Europa. E, surpresa das surpresas, daqui por cinco anos estava de boa saúde económica. A inflexível União Europeia é que não.

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