Quando, em 2019, “Desalmadamente” foi anunciado como grande regresso de Lena d’Água à música, as expectativas terão sido tão grandes quanto a desconfiança de quem já perdera a esperança de vê-la recuperar o gigantesco sucesso que viveu, há 30/40 anos, com clássicos como ‘Dou-te Um Doce’, ‘Sempre que o Amor Me Quiser’ ou ‘Demagogia’. Composto por canções da autoria de Pedro da Silva Martins, que para lá dos Deolinda deixara marca nas discografias de Ana Moura, António Zambujo ou Rita Redshoes, o álbum arrebatou a crítica e garantiu à artista uma série de galardões — incluindo o Prémio José Afonso, em 2020. ‘Grande Festa’ e ‘Hipocampo’ trouxeram a garantia de que a sua voz, embora “com mais corpo”, continuava tão cristalina e jovial como sempre e, cinco anos depois, volta a entregá-la às mãos do compositor e letrista para um segundo capítulo da bem-sucedida parceria: o nome é “Tropical Glaciar”, um disco que apresenta ao vivo esta terça-feira no palco do Teatro São Luiz, em Lisboa.
“Neste disco, o Pedro cria uma coleção de canções que já conta com o meu lado ecológico, que é fortíssimo. O processo evoluiu para aqueles temas que muito me dizem há tantos anos e que não estavam presentes no ‘Desalmadamente’”, começa por explicar Lena d’Água, referindo-se a canções como ‘Carne Vegan’ ou ‘Fruta Feia’, “ele está sempre muito atento, já estava da outra vez. Atento e não só, porque vai à procura de entrevistas e, às vezes, de coisas muito antigas que eu disse, aqui ou acolá, para sacar uma frase”. A parceria — que se desembrulhou, em estúdio, com as colaborações de Luís Martins (irmão de Pedro da Silva Martins, ao lado de quem integra, hoje, os Cara de Espelho), o baterista Sérgio Nascimento (que toca com nomes como Sérgio Godinho ou David Fonseca), Nuno Prata (Ornatos Violeta), Miguel Ferreira (Clã) e Cat e Marta Falcão (as Golden Slumbers) — não deverá ficar por aqui, com Lena d’Água a assumir que “o que está pensado, em princípio, é uma trilogia”.