No primeiro e homónimo álbum dos Sonic Youth, editado em 1982, Lee Ranaldo e Kim Gordon sobrepõem as suas vozes em “I Dreamed I Dream”, montagem poético-abstrata sobre base ritmicamente insistente envolta em guitarras menos abrasivas do que as melhores memórias dessa celebrada banda nova-iorquina sugeririam. “May all your dreams come true”, cantava a futura autora da autobiografia “Girl in a Band”. Mais de quatro décadas depois, o mundo dos sonhos, onde tudo se pode, de facto, tornar real, continua a ser decisivo para o distinto posicionamento artístico de outro dos elementos-chave desse seminal grupo, Thurston Moore, que acaba de lançar o álbum “Flow Critical Lucidity” no seu próprio selo independente, The Daydream Library Series. “O título sugere que não estou interessado em facilitar a vida aos ouvintes”, diz o músico, cantor e editor ao Expresso, com irónico sorriso estampado no rosto. “A minha mulher Eva, que escreveu a letra, tinha uma frase que parecia algo que o Mark E. Smith, dos Fall, diria. O título reflete ideias de sonho lúcido e consciência no mundo real, o que eu acho importante. Acredito em estar ‘acordado’ e consciente dos sistemas de controlo opressivos”, explica Moore a partir da sua residência em Londres, cidade para onde se mudou após a dissolução do casamento com Kim Gordon, que precipitou também o fim dos Sonic Youth.
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Os olhos e as guitarras de Thurston Moore continuam a brilhar: “Flow Critical Lucidity” até podia ser dos Sonic Youth
“Se passar um ano sem lançar um disco, acho que estou a perder tempo”, diz-nos Thurston Moore, guitarrista dos interrompidos Sonic Youth, que aos 66 anos acaba de editar o seu nono álbum a solo