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Global Beatles Day: a triste vida portuguesa no tempo em que quatro ‘guedelhudos’ ingleses eram as maiores estrelas rock do mundo

Enquanto os Sheiks tocavam no Casino Estoril, Paul McCartney passeava-se sem sobressalto pelo Algarve. No Global Beatles Day, assinalado a 25 de junho de cada ano – o dia em que, em 1967, os ‘Fab Four’ interpretaram ‘All You Need Is Love’ na televisão, para uma audiência global –, recuperamos um vívido retrato do contexto musical português da altura que busca o impacto dos Beatles entre nós, a seis anos da revolução de Abril

Beatles
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Os Sheiks cumpriam uma residência no Casino Estoril; o Quinteto Académico fazia as Receções aos Caloiros; Simone de Oliveira cantava no seu restaurante lisboeta, Candelabro; Madalena Iglésias regressava insatisfeita do III Festival Internacional da Canção do Rio de Janeiro; Raul Solnado editava o EP “O Cabeleireiro de Senhoras”. Maysa, brasileira, cantava com o Thilo's Combo na Galeria 48, em Lisboa; Gigliola Cinquetti chegava para um programa na RTP; Baden Powell e Vinicius de Moraes estiveram juntos e ao vivo no Teatro Villaret; Mary Hopkin esteve para vir, mas não veio. No Coliseu apresentava-se “Holiday On Ice” (“um extraordinário espetáculo cheio de beleza, ritmo, cor, alegria, luxo e emoção”) e no Tivoli o Ballet Soviético dos Cossacos da Ukrania (“110 figuras em cena”), sob a direção de Pavel Virsky. Na boîte da moda, Caruncho, estreava-se o Quartet Be-Bop. Por esta altura, a anteceder o Natal, as editoras lançavam grandes campanhas publicitárias para LPs a 125$00 (€0,62) e também para EPs, mas sem indicação de preço. Nada de Beatles, num ou noutro caso. Nos EPs de 45 rotações, podem observar-se, no território da chamada música pop/rock, nomes como The Mamas & The Papas (‘Dream a Little Dream of Me’), Kinks (‘Days’), Hollies (‘Listen to Me’), Turtles (‘Eleonore’), Traffic (‘No Name, No Face, No Number’) e nada mais. Do pop/rock português, apenas os Zoo (‘Baby Come Back’). Na rádio, ouvidos postos no programa “Em Órbita” (Rádio Clube Português) e “Página Um” e “23ª Hora”, na Rádio Renascença. Na RTP... nada! o “Zip-Zip” só nasceria em maio do ano seguinte.