Quando uma ideia é repetida até à exaustão perde, muitas vezes, o impacto que poderá ter tido inicialmente. O muito que nos últimos anos se tem falado de empoderamento feminino retirou força a um termo que todos os que são avessos às (r)evoluções sociais descartam como wokismo, mas que qualquer pessoa com dois dedos de testa perceciona como necessário. Como não entrar pelo caminho da autoajuda vazia e óbvia, será, talvez, o maior desafio de quem, através da sua arte, tenta convencer-nos de que temos de nos tratar bem. “Brat”, o sexto álbum de Charli XCX, no meio de todos os seus abrasivos questionamentos, excede-se na forma como, sem paternalismos, nos mostra que podemos navegar no nosso complexo quotidiano sem nos deixarmos levar por autossabotagens. “When you’re in the mirror, do you like what you see?”, pergunta em ‘360’, assumindo, pouco depois, “if you love it, if you hate it/ I don’t fucking care what you think”; em ‘Von Dutch’, outra das portas de entrada do disco, canta “I’m just living that life, Von Dutch, cult classic, but I still pop”. São dois dos momentos mais frontais num disco de intrincadas camadas.
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Desalinhado, mordaz e livre: “Brat”, de Charli XCX, é um dos discos do ano
Com sensibilidade pop apurada, a artista britânica Charli XCX excede-se num disco autoanalítico, empoderado e, acima de tudo, profundamente livre