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Mark Lewisohn, o maior biógrafo dos Beatles, vem a Lisboa: “Tenho 65 anos e os meus amigos estão na reforma. Mas quero contar esta história”

Percorreu minuciosamente os anos formativos dos ‘Fab Four’ em “The Beatles: All These Years – Tune In”, o início de uma missão de vida a que faltam dois volumes. O escritor britânico Mark Lewisohn é um dos convidados da conferência “A Arte da Biografia” que tem lugar na Gulbenkian, em Lisboa, quarta e quinta-feira. Em entrevista à BLITZ, fala da obsessão em contar uma história real, diz estar numa corrida contra o tempo e revela que Portugal estará nos dois volumes que completam esta odisseia

Mark Lewisohn

Conta 944 páginas, “The Beatles: All These Years”, livro que tem por subtítulo “Tune In”. As quase mil páginas do primeiro de três planeados volumes da mais detalhada biografia de sempre dos Fab Four, obra com assinatura de Mark Lewisohn publicada em 2013, resultam ainda assim de uma tremenda edição operada sobre um manuscrito de 1728 páginas. Indicador claro de um biógrafo que encarou como trabalho para toda uma vida a missão de relatar de forma minuciosa o percurso e a obra dos membros do mais famoso grupo musical de todos os tempos. Lewisohn, escritor britânico de 65 anos, é um dos convidados da conferência “A Arte da Biografia” que decorre no Auditório 2 da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, durante os próximos dois dias.

Com abertura programada para as 10 horas desta quarta-feira, “A Arte da Biografia” apresenta uma série de conversas com autores como Sarah Bakewell (que discutirá o livro que dedicou a Montaigne), Maria Antónia Oliveira (Alexandre O’Neill), António Tomás (Amílcar Cabral), Richard Zenith (Fernando Pessoa), Patricia Lockwood (que conversará sobre o livro que reúne as suas próprias memórias), Heather Clark (Sylvia Plath), o já referido Mark Lewisohn (The Beatles) e Ruy Castro (que biografou Carmen Miranda, Garrincha ou Nelson Rodrigues). Lewisohn falará sobre “All These Years” com Nuno Galopim, jornalista e diretor da Antena 1, pelas 11h30 de quinta-feira.

Antes de escrever o primeiro tomo de “All These Years”, Mark Lewisohn assinou várias outras obras que cobriram diferentes aspetos da carreira dos Beatles, enumerando de forma precisa e detalhada concertos e sessões de gravação em estúdio. Ainda assim, o escritor concluiu que a importância da banda de “Yellow Submarine” justificaria uma obra de maio fôlego, uma biografia que apresentasse todos os preciosos detalhes da vida, da obra e do impacto na sociedade do grupo de John Lennon, Paul McCartney, Ringo Starr e George Harrison. Uma biografia que deveria ser abordada com o mesmo rigor analítico devotado às grandes figuras da história, mas que, na sua opinião, está quase sempre ausente quando os biografados são figuras da cultura pop.

Em entrevista à BLITZ, Mark Lewisohn falou generosamente sobre o seu entendimento desta “arte” da biografia, explicou porque após 20 anos de trabalho minucioso e intenso ainda não publicou o segundo dos três volumes anunciados de “The Beatles: All These Years”, discutiu a relevância do grupo que está prestes a inspirar quatro diferentes “biopics” de Sam Mendes – projeto em que poderá estar envolvido, adianta-nos – e ainda nos revelou como uma pequena notícia publicada em 1964 num jornal de Liverpool levou o investigador português Abel Rosa até aos arquivos do Estado Novo depositados na Torre do Tombo, ponto de partida para o livro “Os Beatles e a Censura em Portugal” (Âncora Editora, 2020).