Exclusivo

Blitz

Os melhores álbuns de 2023: o lugar da tradição no fado de Carminho

Na reta final de 2023, recordamos os melhores álbuns nacionais do ano para a equipa da BLITZ. Em primeiro lugar está “Portuguesa”, no qual Carminho se concentra na “prática” da linguagem do fado

Carminho
FERNANDO TOMAZ

Quem é que eu seria se não fosse fadista? Esse questionamento não me traz sentimentos estranhos, porque não consigo imaginar.” É desta forma, perentória, que Carminho descreve a sua relação “embrionária” com o fado: “Eu já ouvia a minha mãe cantar na barriga dela.” Talvez por isso, talvez porque sempre o sentiu como seu lugar de pertença, mesmo quando, na adolescência, os amigos não só não partilhavam a sua paixão como assumiam sem pruridos não gostar dele, a fadista tenha chegado a “Portuguesa”, o seu sexto álbum, com vontade de apurar a prática de um género musical que garante não querer alterar: “Não tenho a pretensão de mudar o fado.” Isso não significa, contudo, que não tenha em si uma grande vontade de ajudar a reinventá-lo “por dentro”, tal como tinha assumido ao Expresso quando a visitámos em estúdio, em março do ano passado, para acompanhar as sessões de gravação do novo álbum.

“O Camané tem uma frase maravilhosa: ‘A tradição constrói-se.’ É muito inspirador”, refere, no decorrer de uma conversa na qual faz, também, as devidas vénias a precursores como Alfredo Marceneiro ou a “mentora” Beatriz da Conceição. “A tradição tem as suas práticas, mas isso não quer dizer que seja intocável ou que esteja cristalizada num tempo e que tu simplesmente vás lá beber e voltes. Eu acredito que o fado continua a dar-me respostas, a estimular-me e a mandar-me para a frente, por isso é que me mantenho nele. É uma fonte inesgotável. Independentemente de eu gostar de cantar tanta coisa, de fazer colaborações e ligações com outras músicas.”