No passado verão, António Zambujo estava de férias quando reparou num fenómeno não totalmente novo, mas potenciado pela tecnologia do momento. “Fazemos férias com vários casais com filhos, e a seguir ao almoço há sempre aquele momento em que os adultos ficam sentados à mesa e os miúdos iriam supostamente brincar.” Na verdade, o que as crianças faziam era algo diferente: “levantavam-se da mesa e, quando dávamos por eles, estavam cinco ou seis miúdos, cada um sentado na sua cadeira, com o tablet ou o telemóvel. Depois interagiam um bocado, porque descobriam jogos que dava para jogar online”, conta. “Mas, de resto, estava cada um com o seu telemóvel e não se ouvia um pio. Não há diálogo, e isso assusta-me.” A história surge a propósito de “Cidade”, décimo álbum de António Zambujo, que reúne uma dúzia de canções subordinadas, entre outros temas, ao mote da solidão urbana.