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Blitz

A última canção dos Beatles é um milagre? Não, é um Projeto Frankenstein

Quando, em 1994, lhe foi dado escutar a cassete que John Lennon, ausente do mundo dos vivos desde 1980, deixara a Yoko Ono e que continha a maqueta de ‘Now And Then’, George Harrison (que também já cá não está) declarou: “lixo completo”. Quase 30 anos depois, os restantes membros dos Beatles não quiseram saber e levaram por diante uma sessão espírita, resgatando ao além uma caricatura apatetada do que, muito lá atrás, souberam ser

George Harrison (1943-2001), Ringo Starr (1940), Paul McCartney (1942) e John Lennon (1940-1980)

A Prof. Dra. Holly Tessler, da Universidade de Liverpool (Senior Lecturer, responsável pela criação de uma pós-graduação sobre os Beatles e fundadora do “Journal of Beatles Studies” publicado pela Liverpool University Press), não tem dúvidas: “A publicação de ‘Now And Then’ é um grande momento. É estranho pensar que uma banda que se separou há mais de 50 anos nos venha dizer agora que esta é a sua última canção. De certo modo, Paul e Ringo, ambos na casa dos 80, traçaram uma linha. Suponho que este seja um momento muito emocionante para todos os fãs dos Beatles: assinala um fim significativo. Qualquer pessoa com menos de 53 anos viveu sempre num mundo no qual os Beatles não existem. A separação do grupo, em 1970, não foi particularmente amistosa. O que isto lhes oferece é uma oportunidade de suavizar a separação e torná-la mais comovente. Um fim natural mais do que uma história de quatro jovens zangados declarando que nunca mais quererão trabalhar juntos. Uma amizade duradoura que se estendeu ao longo de uma vida. Não podemos apagar a história mas possibilita-nos uma compreensão diferente dos Beatles que, de algum modo, continuaram a trabalhar juntos dos anos 60 até hoje”.