Dois benjamins: um perscrutando as teclas do piano e a profundidade da sua própria voz, o outro lá atrás, no ecrã gigante, em imagens pré-gravadas que o mostram contemplativo, passeando-se por igrejas e palácios, ou simplesmente observando. É assim que começa o 22.º concerto em Portugal de Benjamin Clementine, artista singular que, desde a benfazeja estreia no nosso país, corria o ano de 2015, não mais deixou de nos visitar e agraciar com um carisma muito próprio. Esta noite, no Campo Pequeno, o inglês apresentou um espetáculo que é simultaneamente simples - na forma como se dirige às mais essenciais das emoções humanas - e complexo, pela ambição que se pressente a casa passo. No dito ecrã, por onde passará também, recorrentemente, uma trupe de apolíneos bailarinos, estão refletidas, possivelmente, a entourage e a cenografia com que o homem de ‘Condolences’ gostaria de contar, caso a logística o permitisse. Na impossibilidade de trazer consigo um espetáculo tão pomposo, Benjamin Clementine, um vulto vestido de branco e abençoado pela elegância (apesar de, aos 34 anos, se considerar “velho e gordo”), surge em palco com pontualidade para dar início à sua missa na companhia singular de um piano. Pouco depois, juntar-se-lhe-ão uma guitarra, uma bateria e um quarteto de cordas. Mas, no final, é à solidão do piano - e do imenso coro da plateia - que regressa. Em rigor, não precisa de mais nada.
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Benjamin Clementine em Lisboa: a liturgia, a expiação e a voz imensa de um extraterrestre cheio de alma
No seu 22.º concerto em Portugal, Benjamin Clementine deu um espetáculo simultaneamente simples, nas emoções que transmite, e ambicioso, na complexidade conceptual que procura. Tal como Frida Kahlo se pintava a si, o inglês coloca-se no centro da sua obra, refletindo a diferença e a procura de pertença. Portugal não podia amá-lo mais