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St. Vincent no Primavera Sound Porto: o “carago” do brinde, as guitarradas sexuais e um concerto a dois tempos

Celebrado pelos fãs mais fiéis, que não arredaram pé da frente do palco, o concerto de St. Vincent no terceiro dia de Primavera Sound Porto foi-se enredando nas malhas cerebrais do rock e acabou por deixar alheada parte da plateia

Entre o fogo do seu álbum mais expansivo, “Masseduction”, de 2017, e as lições psicadélicas de “Daddy’s Home”, St. Vincent ofereceu um longo e carinhoso abraço aos fãs mais fiéis na terceira noite do Primavera Sound Porto. Mas depois de esmorecido o impacto inicial, a proposta de rock cerebral da artista norte-americana acabou por deixar alheada parte da pequena multidão que se foi concentrando frente ao palco depois de terminado o concerto dos Pet Shop Boys.

Assegurada uma abertura em jeito jazzy com o já clássico ‘Digital Witness’, a artista norte-americana, que se fez acompanhar por uma mui competente banda, atirou-se, de guitarra a tiracolo, à distorção claustrofóbica de ‘Down’, para logo de seguida acelerar o ritmo com uma ‘Birth in Reverse servida em modo guitar hero. “Boa noite, Porto. Estou muito feliz por estar aqui”, comunicou, para gáudio da plateia, num português bem ensaiado, “o Porto é lindo, carago!”.

A sedução suada de ‘Daddy’s Home’ daria depois lugar a um brinde dedicado “a todos nós que estamos aqui esta noite, ao milagre que isto é”, e a uma das sequências mais celebradas da noite: primeiro, as teclas delicadas da desconcertante balada ‘New York’ levaram-na a descer ao fosso para cantar bem perto da primeira fila (chegando mesmo a pegar num telemóvel para se filmar); depois, atirou-se ao rasgo de guitarra de ‘Los Ageless”.

Antes de os ânimos começarem a esmorecer, trouxe ainda para palco o namoro gingão de ‘Sugarboy’, que termina, no chão, em duelo pornográfico com o guitarrista, o ritmo cavalgante de uma envolvente ‘Fast Slow Disco’, muito celebrada e participada pelo público, e a trovoada de ‘Cheerleader. Perto do final, um mergulho ao passado mais longínquo levou-a até a uma esquizofrénica ‘Your Lips Are Red’ para prontamente regressar ao presente com a suavidade de ‘The Melting of the Sun’. “Cheguem bem a casa e tomem conta uns dos outros. Esta vida é o que temos”, despediu-se, entre elogios à banda.