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Primavera Sound Porto: com este Big Show Pimba qualquer festival fica em paz

Seria injusto não referir os nomes de todos: Bruno Nogueira, Manuela Azevedo, Filipe Melo, Nuno Rafael e Nelson Cascais abriram a terceira ‘jornada’ do palco maior do Primavera Sound Porto, agora ‘remendado’ com gravilha, usando uma mestria ao alcance de poucos. Uma versão abreviada de um espetáculo infalível, pleno de humor e irresistível portugalidade

Por esta altura não será preciso escrever muito mais do que isto: Bruno Nogueira, Manuela Azevedo, Filipe Melo, Nuno Rafael e Nelson Cascais fizeram um dos melhores elogios ao ‘pimba’ (popular, brejeiro, malandro, passional) que alguém poderia ter feito.

Com cerca de dez anos de ‘rodagem’, o espetáculo “Deixem o Pimba em Paz” transformou-se, porventura, numa banda: é um ‘roadshow’ que exalta as propriedades irresistíveis, quiçá vitais, de uma cultura tida como baixa, desviando a categorização para o domínio da perceção.

A plateia do principal palco do Primavera Sound Porto foi-se preenchendo pouco a pouco, num cenário enquadrado pelo sol do lado do mar (nuvens negras voltam a espreitar, porém), com piso remendado com gravilha depois do pântano da véspera. Queira Óscar, a laureada depressão, deixar-nos em paz.

Vestidos a rigor, os cinco “Pimbas” condensaram em 50 minutos um repertório que tanto vai ao cabaré como à balada folk, oferecendo a canções de vultos como Quim Barreiros ou Ágata vestimentas que lhes assentam na perfeição. O efeito é esse: a canção ‘pimba’ despe a farpela barata e veste uma marca mais cara, mas em vez de o fazer apenas para exibir estatuto, descobre que afinal há outras roupas que lhe ficam bem.

Bruno Nogueira é o mestre de cerimónias, humorista a fazer humor e a cantar como pode (e não pode mal), Manuela Azevedo é a vocalista ‘musical’, profissional, empregando a sua enorme voz (a melhor de todo o pop/rock nacional) como se cada uma das canções tivesse saído do seu ventre. É também a percussionista do grupo, desempenhando com fulgor uma função que pouco ou nada precisou de ativar nos Clã. Melo, Rafael e Cascais são os artesãos do luxo.

De ‘24 Rosas’ (José Malhoa) a ‘Os Bichos da Fazenda’ (Quim Barreiros), o nível manteve-se sempre altíssimo: ‘Ninguém, Ninguém’ e ‘Taras e Manias’ (Marco Paulo), a hilariante ‘Vem Devagar, Emigrante’ (Graciano Saga), num quase-rap tragicómico, ‘Bebé’ (Romana) com ritmo feroz, ‘A Garagem da Vizinha’ (novamente Quim) no seu rendilhado alegórico, e mais algumas, deixaram distinta marca nacional na 10ª edição do festival do Porto.