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Bob Dylan ao vivo no Campo Pequeno: 82 anos no corpo, uma eternidade na voz, um concerto inesquecível

Como cantou em tempos Caetano Veloso, Bob Dylan mora na filosofia. Como todos os gigantes, não cabe no tempo. Neste regresso a Portugal, não há qualquer tipo de concessão à norma moderna do concerto de rock: o palco está ‘nu’, toda a gente é ‘convidada’ a deixar os telefones de lado e, como é hábito, o artista não se deixa fotografar pela imprensa. O que se seguiu foi a navegação de um glorioso rio da grande música americana num torpor hipnótico. Ele pode dizer que nada é como era, mas este é mesmo Bob Dylan

Bob Dylan ao vivo em 2019
Getty Images

Dylan é enorme. Gigante, mesmo. E para perceber como cabe tamanho colosso num espaço como aquele em que ontem se apresentou – ou qualquer outro, na verdade – é preciso descartar as leis da física e, talvez, recorrer à metafísica. Porque Dylan, como cantou em tempos Caetano Veloso, mora na filosofia e aí não há metros quadrados ou cúbicos, não há assoalhadas, nem fronteiras ou continentes. Apenas ideias. Talvez sonhos. E tantas palavras quanto as que são necessárias para cantar a vida do mundo. Sim, o Campo Pequeno – como o Coliseu do Porto, dois dias antes, e todos os outros recintos do planeta – não tem espaço que chegue para a imensidão daquele homem. E, no entanto, ele lá esteve ontem, com 82 anos na cabeça, tronco e membros e uma eternidade na voz. Como se nada fosse. Ou como se tudo fosse como sempre foi, ainda que a “Rough and Rowdy Ways Tour” que agora o traz de regresso a Portugal se apresente ao mundo com o mote “Things aren’t what they were...”. Claro que não, o tempo – o dos relógios e o dos calendários – não se compadece com a permanência. Mas Dylan, já o dissemos, mora na filosofia. Como todos os gigantes que só cabem na História.