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Blitz

Quando Bob Dylan voltou ao mundo dos vivos, quando o tempo de Bob Dylan voltou a ser o nosso

“Era um trovador dos anos 60, uma relíquia do folk-rock, um artesão da palavra de tempos idos, um chefe de Estado de ficção de um país que ninguém conhecia. (…) Já não era o meu momento da História. O espelho tinha rodado e conseguia ver o futuro — um velho ator a vasculhar o lixo à porta do teatro dos sucessos passados.” Era este o Bob Dylan de 1987 que ele mesmo desenhava em “Chronicles Volume One”. A salvação (ou o renascimento) chegaria em meados dos anos 90, período captado por mais um volume das suas “Bootleg Series”

Bob Dylan em meados dos anos 90
Antonin Kratchovil

“Tinha dado demasiados tiros nos pés. Não tinha desaparecido por completo mas a estrada tinha-se afunilado, quase fechado. Ainda não me tinha extinguido mas cambaleava caminho fora. Havia uma pessoa desaparecida dentro de mim e precisava de a encontrar. Sentia-me gasto, um destroço vazio e esgotado. Demasiada estática na minha cabeça de que não conseguia livrar-me. Estivesse onde estivesse, era um trovador dos anos 60, uma relíquia do folk-rock, um artesão da palavra de tempos idos, um chefe de Estado de ficção de um país que ninguém conhecia. Não tinha a menor ligação a qualquer tipo de inspiração. Já não era o meu momento da História. O espelho tinha rodado e conseguia ver o futuro — um velho ator a vasculhar o lixo à porta do teatro dos sucessos passados.”