Ter uma banda é um sonho de miúdo, é um sonho de adulto, é um sonho húmido. Há uns anos, os ingleses Art Brut cristalizavam o ensejo num refrão simples, direto, verdadeiro: "Formed a band, we formed a band/ Look at us, we formed a band". Repetir uma dúzia de vezes.
Elijah Hewson, rapaz de boas famílias, formou uma banda aos 12 anos com dois dos três companheiros que dez anos depois são recebidos com aplausos e alguma euforia no palco Heineken do NOS Alive. Até 2015, eram Elijah Hewson (voz, guitarra, guitarras ritmo e lead), Robert Keating (baixo), Ryan McMahon (bateria). Quando se batizaram de Inhaler, entrou Josh Jenkinson (guitarra lead e ritmo) e nascia uma banda maior.
A primeira entrada discográfica do quarteto remonta a 2017, quando o jovem Hewson contava 18 anos. E se centramos a coisa em Hewson é por duas razões: os Inhaler - que desde então lançaram singles com regularidade, fizeram primeiras partes de concertos de Noel Gallagher e editaram um álbum de estreia há praticamente ano - são o tipo de banda que gira em torno do carisma e dos 'good looks' do seu vocalista; os Inhaler são a banda do filho de Bono, vocalista dos U2 e um dos maiores astros do pop/rock de todos os tempos.
A recebê-los, talvez meia casa (que depois 'cresce' para 2/3 da lotação), com uma espécie de 'golden circle' espontâneo composto por fãs devotos que não cessam, ao longo de 45 minutos de concerto, de enviar mensagens para Hewson e companheiros (os telemóveis são os novos cartazes). Como provavelmente em nenhum outro concerto nesta edição do NOS Alive, percebe-se que aqui se reúne a 'comunidade' irlandesa do festival, recebendo os filhos da terra neste fim de tarde de canícula.
Mal entra em palco, Hewson - de negra 'shirt' de alças colada ao corpo, cabelo desalinhado, epítome da invencibilidade da juventude à nossa frente - evoca o senhor Paul Hewson (Bono Vox, por esses dias) entre "October" e "War", 1982/83, quando ainda o pós-punk corria nas veias dos rapazes de Dublin (junte-se uma percentagem do DNA de Jeff Buckley). Mas os Inhaler - como a primeira canção, 'It Won't Always Be Like This', tema-título do álbum de estreia, dá logo a entender - são outra coisa. Estão mais próximos do rock mainstream dos anos 80 e 90 do que do pós-punk sombrio, vagamente encrespado, de 'New Year's Day' ou 'I Will Follow You', mais perto de uma fórmula condutora de uma certa nostalgia, feita de crescendos, refrões que se adormecem para depois regressarem com maior força. Um pouco, até, como os mais mansos e menos 'angulares' revivalistas do pós-punk do século XXI, vide Editors et al.
Os Inhaler procuram invariavelmente um efeito de êxtase, e mesmo que a lírica não seja sempre um mar de rosas, musicalmente a toada conduz o ouvido a uma sensação de otimismo e ânimo: são disso exemplos 'Totally', 'When It Breaks' ou 'These Are the Days'.
Vocalista muito competente, com um timbre que - outra inevitabilidade, talvez - acaba por chamar por Bono nos laivos de maior amplitude, Hewson-filho não vem para grandes conversas, aproveitando o pouco tempo disponível para apresentar o maior número de cartões de visita da breve (mas apetrechada) discografia. Esta é a sua banda, ainda que - um pouco de futurologia - nos pareça que em poucos anos se venha a tornar um trampolim para um negócio por conta própria, quiçá aproveitando de forma mais benevolente a 'herança' do pai, procurando multidões mais parecidas com as que os veteranos de 'I Still Haven't Found What I'm Looking For' almejaram a partir de meados dos anos 80.
Começámos a citar arte bruta, terminamos 'quoting' Elijah Hewson na canção com que o seu grupo se despede, 'My Honest Face': "There's just a certain culture when you're young/ C-call it fun".