Era um concerto ganho à partida. A voz suave e assobiada sempre no ponto, a simplicidade das canções servidas à viola, o romantismo inveterado das letras que a legião de fãs tem na ponta da língua poderiam ter sido suficientes para António Zambujo arrebatar a multidão que se concentrou frente ao palco Galp Music Valley neste terceiro dia de Rock in Rio Lisboa, mas o músico alentejano foi mais além e arrancou o concerto com uma prestação arrepiante do Rancho de Cantadores da Aldeia Nova de São Bento. A força do cante alentejano de ‘O Meu Chapéu’ puxou pela primeira grande ovação da plateia e arrastou com ele a homenagem às raízes de ‘Trago Alentejo na Voz’.
Conquistando um intimismo raro num espetáculo com tanta gente a assistir, Zambujo seguiu caminho, acompanhado pela sua banda, pelo dramatismo de ‘Se Já Não Me Queres’, a expressividade de ‘Catavento da Sé’ e canções marialvas, do provocatório ‘Arrufo’ às teclas sensíveis da ‘Valsa de Um Pavão Ciumento’. A guitarra portuguesa deu o mote ao faduncho ‘Flinstones’, a multidão agitou com ‘Multimilionário’ e já havia quem chamasse pelo ‘Pica do Sete’ quando Zambujo exclamou: “Está tanta gente que estou a sentir-me a Ivete Sangalo!”.
A toada descontraída manteve-se até ao final, com o ‘Zorro’ a trazer consigo a emoção benfiquista (“cantem comigo, vá lá”) e a acalmia de ‘Amor de Antigamente’ a puxar por suspiros e um coro ordeiro. Na reta final, Zambujo sacou dos trunfos, servindo em sequência certeira, e muito aplaudida, ‘Lote B’, ‘Queria Conhecer-te Um Dia’ e, claro, ‘Flagrante’, encerrando com o grande coro de ‘Pica do Sete’. Antes, porém, ficou o recado: “Pessoal, obrigado. Daqui a uma hora estará aqui um dos meus grandes heróis, o Ney Matogrosso. Venham assistir ao concerto”.