Os Fado Bicha, que participaram na primeira eliminatória do Festival da Canção, não sendo apurados para a final, partilharam um balanço da sua experiência no evento.

“Cravos boiam ou afundam-se lá atrás enquanto nós levantamos leques com a palavra BICHA em branco-confronto. Lembro-me de um momento solitário no início da minha adolescência, num qualquer 25 de Abril, em que via, pela televisão, uma multidão a descer a avenida, de cravos em riste, e pensava, com amargura e incipiente lucidez política, que eu não acedia àquela liberdade que celebravam”, pode ler-se nas redes sociais da dupla.

“Eu, que era diariamente agredida na escola, na praceta onde morava, que acordava com medo de sair à rua, que vivia no terror de a minha família descobrir que eu era o maricas da escola, que até uma professora gozava comigo, que me batiam, empurravam, cuspiam e xingavam e eu não fazia absolutamente nada, só me encolhia em humilhação e vontade de desaparecer. Que liberdade era aquela que celebravam? E que liberdade celebramos hoje? Liberdade de quem, quando, de que maneira? “, sublinha-se.

“Dedicamos a nossa performance à família Coxi, do Seixal, com um profundo agradecimento e solidariedade. E a todas as crianças-bicha em Portugal. Amamos cada uma de vocês e estaremos à vossa espera, quando crescerem, para continuarmos juntas a revolução. Obrigada por tudo, à nossa equipa maravilhosa, a todes vocês pelas mensagens carinhosas. Fomos 100% Fado Bicha e estamos muito contentes com o que fizemos e com toda a experiência.”