Autárquicas 2017

Jardim está de volta e quer demissão da “horda” que manda no PSD-Madeira

As eleições correram mal a Miguel Albuquerque, falhou a aposta no Funchal e tem agora menos uma câmara do que 2013. Ou seja, apenas três dos 11 municípios da região. O antigo líder diz que, por este andar, “o povo madeirense arrisca-se a ficar nas mãos de um governo comuno-socialista a partir de 2019”

Gregório Cunha

Alberto João Jardim não esperou muito para abrir fogo sobre a direção do PSD-Madeira que, este domingo, apenas conseguiu eleger três presidentes das 11 câmaras da região. O ex-líder do partido insurgiu-se contra “a horda que assaltou” o PSD-Madeira, a tal que, segundo garante, urdiu a derrota social-democrata em 2013, a mesma que pediu que se demitisse e que, quatro anos depois, o antigo presidente do partido espera que seja coerente.

O artigo, publicado na página de Facebook do agora presidente da Fundação Social-Democrata, não é, no entanto, claro quanto a quem deve sair e a quem deve continuar no PSD para que o povo madeirense não se arrisque “a ficar nas mãos de um Governo comuno-socialista” em 2019. É certo que Miguel Albuquerque sugeriu que Jardim se demitisse em 2013, mas a opinião do histórico dos sociais-democratas madeirenses é que se deve unir o partido. Essa “unidade significa eliminar o passado recente e não são necessários saneamentos ou marginalizações, nem recuar a qualquer anterior candidatura à liderança. Basta afastar nem sequer uma dezena de criaturas”.

O que não se sabe é se entre a “dezena de criaturas” está toda a comissão política ou se são apenas alguns e, se entre esses, se inclui o atual líder do PSD-Madeira. O que é claro é que Jardim está descontente que o partido, que diz ter sido tomado por interesses externos decididos a acabar com as maiorias absolutas. O que, segundo entende, é perigoso. “O partido foi assaltado por uma estratégia exterior para nos fazer perder as maiorias absolutas. Numa maioria absoluta o poder está nos políticos eleitos e fiscalizados pelo povo. Sem maiorias o poder fica nas mãos do capital financeiro”.

No mesmo artigo, Jardim não resiste a ser Jardim e, além das críticas à “horda”, a “clique” e “à dezena de criaturas” que é preciso afastar do partido, estende a avaliação aos comentadores de vários partidos convidados para a noite eleitoral na RTP-Madeira, que classifica como o canal do estado colonial. “A propósito”, escreveu referindo-se a uma das comentadoras, “quem era aquela analfabeta política que pintava o passado autonómico da Madeira com cores negríssimas?”. A conclusão, segundo Alberto João Jardim, é esse “passado que, na educação e desenvolvimento, se calhar permite que, hoje, a asneirenta não ande andrajosa a esmolar pelas esquinas”.

As críticas, no entanto, são quase todas para o partido, pois “o que até agora aconteceu no PSD é mau demais para ser só incompetência, irresponsabilidade e leviandade política”. O anterior presidente dos sociais-democratas também defende um regresso à luta pela autonomia. Ainda assim, e apesar de considerar muito o presidente reeleito do Funchal, Paulo Cafôfo, garante que ainda se orgulha de pertencer ao PSD e não deixa de reconhecer o empenho da candidata do PSD derrotada na noite de domingo. Só lamenta que tenha sido abandonada e entregue ao improviso.

Para dissipar dúvidas, explica que a única vez que não votou no PSD foi mesmo nas eleições legislativas nacionais de 2015, isso foi um risco de alto a baixo, um risco em Pedro Passos Coelho, o homem que, quando foi primeiro-ministro, o obrigou a assinar um resgate e a impor medidas de austeridade na Madeira. Desta vez, pelo Funchal, votou no partido que liderou durante 38 anos, até porque o filho era candidato na lista de Rubina Leal, “um filho a quem deve uma lição de lealdade partidária”.

Do mesmo modo que acerta as contas com a “ horda que assaltou o PSD-Madeira” e que este domingo “engoliu o pão que amassou há quatro anos”, Jardim não esquece a derrota de Pedro Passos Coelho, a quem acusa de ter feito “genocídio social” e de ser responsável pelo descalabro do partido ao nível nacional. Tal como na Madeira, o PSD está ocupado e os ocupantes nacionais são cúmplices dos ocupantes regionais. “Lá como cá, a estratégia de inscrever estranhos, incluso votantes do PS e das organizações comunistas, para lhes garantir os poleiros”.

Se esta situação se mantiver, então a solução, diz o homem que ainda sente orgulho em ser do PSD, “pode ser a formação de uma nova organização política ao centro, quer nacional, quer regional, apontada à descentralização política, ao desenvolvimento e ao emprego”. A ideia de criar um partido não é nova em Jardim já que, no último discurso no Chão da Lagoa em que esteve como líder do PSD, deixou o desafio.