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Mulheres - porque vos queremos?

Falar sobre a necessidade de termos mais mulheres em cargos de alta gestão, com poder decisório para ter influência nos destinos das organizações, das nações, do mundo, não pode ser apenas, na minha perspetiva, uma questão de equidade e justiça social, e muito menos uma redução simplista a aritméticas simples de proporções

Martin Barraud

É certo que a igualdade de acesso, e o tratamento justo e igualitário de situações semelhantes na sua base, deve existir, em sociedades democráticas e equilibradas que, não deixando de valorizar o mérito, distribuem de forma transversal as capacidades e as oportunidades, independentemente de género.

Também é certo que as organizações devem criar as condições para que todos, independentemente de raça, credo, religião ou género possam ter acesso a todos os níveis da estrutura de governação, sendo o único critério realmente válido para a filtragem o critério do mérito - ou seja, das competências demonstradas, aliadas às conquistas conseguidas, e à experiência acumulada.

Mas, muito mais importante do que estes dois pontos, que considero serem as pedras basilares mínimas de organizações que se dizem conscientes, responsáveis e sustentáveis, é que a diversidade de género em posições de gestão, e de decisão, não é só uma questão de compliance com o que é bem visto, ou fica bem na cartilha dos ESG. É uma questão de ganho no negócio e de vantagem competitiva para a própria organização. Investir na diversidade de género não é, pois, somente, investir na sustentabilidade. É investir no negócio como um todo, garantindo a sua sustentabilidade, nas suas várias dimensões, no longo prazo.

Olhemos para os dados:

  • Segundo a McKinsey, que tem, ao longo de quase uma década, produzido os relatórios Diversity Matters (4 relatórios publicados em 2015, 2018, 2020 e 2023), está mais do que demonstrado existir uma "associação entre liderança diversa e ambições de crescimento holístico, maior impacto social e uma força de trabalho mais satisfeita";
  • Estes estudos da Mckinsey que, no ano de 2023, atingiram a amostra mais representativa de sempre, abrangendo um universo de 1265 empresas, de 23 países e 6 regiões do Mundo, têm vindo a comprovar, de forma crescente, o caso de negócio da diversidade de género que mais do que duplicou nestes últimos 10 anos - em 2015, previa-se que as empresas no quartil superior de maior diversidade, eram 15% mais propensas a terem um desempenho financeiro superior aos seus pares. Já em 2023, esse número atingiu 39%;
  • E se aplicarmos esta análise aos Conselhos de Administração, a conclusão é de que as empresas que se situam no quartil superior da diversidade de género na composição dos seus boards, são 27% mais propensas a apresentarem um desempenho financeiro superior, do que as que se encontram no quartil inferior;
  • Finalmente, e para rematar o que poderia ser uma muito mais longa lista de estudos e evidências, um estudo do Fundo Monetário Internacional (FMI) de Janeiro deste ano aponta para um aumento de 8% no PIB de mercados emergentes e países em desenvolvimento, como resultado direto da redução de disparidades entre homens e mulheres nos mercados laborais. Se esta disparidade fosse totalmente eliminada, o PIB desses países poderia subir uns impressionantes 23%. A OCDE afirma também que a igualdade de género no mercado de trabalho poderia aumentar o PIB global em até 12%, até 2030. Estes dados mostram que a inclusão feminina não é apenas benéfica para as organizações, mas também para a economia em geral.

Ou seja, e resumindo - como se não bastassem as considerações motivadas pela necessidade de equidade e justiça social, ou aquilo que o bom senso recomenda, são crescentes e cada vez mais objetivas as vantagens económicas e financeiras da diversidade. Não só a diversidade de género - mas também a diversidade étnica e a integração de pessoas com deficiência - são fatores que, quando devidamente endereçados, podem contribuir para um aumento de performance, produtividade e ainda de inovação, como também para a melhoria da cultura organizacional, com os inerentes ganhos em satisfação de pessoas.

Mas agora vem a pergunta de ouro - e porque é que a diversidade de género traz todos estes benefícios? o que é que o género feminino pode, em concreto, trazer de valor acrescentado às organizações, aos mercados, à economia de uma forma geral?

Existem várias opiniões e pontos de vista, que respondem de diversas formas a esta pergunta. Umas respostas mais consistentes do ponto de vista científico, e outras muito mais baseadas na experiência. Todas elas, no entanto, dignas de reflexão. Deixo aqui algumas destas perspetivas, com as quais concordo de forma particular:

  • A colocação de mulheres em cargos de decisão corrige desequilíbrios históricos, proporcionando uma mais justa distribuição de oportunidades e poder, gerando desta forma modelos de governança mais sustentáveis e com maior justiça social. Isto mesmo é corroborado por um estudo da Organização Internacional de Trabalho, datado de 2019, intitulado "Women in Business and Management: Gaining Momentum";
  • Na área da política pública, um estudo do Journal of Politics com o título "Women in Parliament: Providing a Voice for Women’s Interests", concluiu que mulheres no Parlamento têm uma maior propensão a promover legislação nas áreas dos direitos humanos, igualdade de género e
  • desenvolvimento social. Isto significa que investir em colocar mais mulheres em cargos de decisão de empresas, poderá influenciar também a política pública a promover mudanças que beneficiem não apenas as mulheres, mas a sociedade como um todo;
  • Existem competências muito necessárias para o chamado futuro do trabalho e que são muitas vezes associadas aquilo que normalmente se entende como a representação social do feminino - a empatia, a capacidade de comunicação, agregação e construção de redes, a resiliência e a capacidade de multitasking;
  • Finalmente, destaco ainda o papel fundamental que a presença de mulheres em altos cargos de gestão e liderança representa para a inspiração das futuras gerações. A visibilidade de mulheres em posições de decisão, ajuda a quebrar estereótipos de género, e desafia as normas culturais que limitam as ambições femininas. Exemplos como o da Girl Move, organização que promove a liderança feminina em jovens Moçambicanas, é um excelente caso de sucesso, numa iniciativa de impacto portuguesa, que é reconhecida e premiada internacionalmente.

Resumindo: investir na diversidade de género não é apenas uma questão de responsabilidade ou de justiça social, mas um impulsionador do sucesso e da sustentabilidade organizacional. Existem várias razões para queremos mais mulheres a mandar no mundo. Mas a principal é bem simples - o mundo é, de facto, melhor, mais pacífico e equilibrado, quando às mulheres é dada a mesa do poder, em igualdade de circunstâncias, com os homens. E, para além disso, é bom para o negócio. Líderes inteligentes e atentos sabem disso. E, por essa razão, procuram trabalhar, em colaboração com a diversidade de géneros, para fazer crescer a sociedade como um todo, de forma mais saudável e sustentável.

Mário Henriques