É certo que a igualdade de acesso, e o tratamento justo e igualitário de situações semelhantes na sua base, deve existir, em sociedades democráticas e equilibradas que, não deixando de valorizar o mérito, distribuem de forma transversal as capacidades e as oportunidades, independentemente de género.
Também é certo que as organizações devem criar as condições para que todos, independentemente de raça, credo, religião ou género possam ter acesso a todos os níveis da estrutura de governação, sendo o único critério realmente válido para a filtragem o critério do mérito - ou seja, das competências demonstradas, aliadas às conquistas conseguidas, e à experiência acumulada.
Mas, muito mais importante do que estes dois pontos, que considero serem as pedras basilares mínimas de organizações que se dizem conscientes, responsáveis e sustentáveis, é que a diversidade de género em posições de gestão, e de decisão, não é só uma questão de compliance com o que é bem visto, ou fica bem na cartilha dos ESG. É uma questão de ganho no negócio e de vantagem competitiva para a própria organização. Investir na diversidade de género não é, pois, somente, investir na sustentabilidade. É investir no negócio como um todo, garantindo a sua sustentabilidade, nas suas várias dimensões, no longo prazo.
Olhemos para os dados:
- Segundo a McKinsey, que tem, ao longo de quase uma década, produzido os relatórios Diversity Matters (4 relatórios publicados em 2015, 2018, 2020 e 2023), está mais do que demonstrado existir uma "associação entre liderança diversa e ambições de crescimento holístico, maior impacto social e uma força de trabalho mais satisfeita";
- Estes estudos da Mckinsey que, no ano de 2023, atingiram a amostra mais representativa de sempre, abrangendo um universo de 1265 empresas, de 23 países e 6 regiões do Mundo, têm vindo a comprovar, de forma crescente, o caso de negócio da diversidade de género que mais do que duplicou nestes últimos 10 anos - em 2015, previa-se que as empresas no quartil superior de maior diversidade, eram 15% mais propensas a terem um desempenho financeiro superior aos seus pares. Já em 2023, esse número atingiu 39%;
- E se aplicarmos esta análise aos Conselhos de Administração, a conclusão é de que as empresas que se situam no quartil superior da diversidade de género na composição dos seus boards, são 27% mais propensas a apresentarem um desempenho financeiro superior, do que as que se encontram no quartil inferior;
- Finalmente, e para rematar o que poderia ser uma muito mais longa lista de estudos e evidências, um estudo do Fundo Monetário Internacional (FMI) de Janeiro deste ano aponta para um aumento de 8% no PIB de mercados emergentes e países em desenvolvimento, como resultado direto da redução de disparidades entre homens e mulheres nos mercados laborais. Se esta disparidade fosse totalmente eliminada, o PIB desses países poderia subir uns impressionantes 23%. A OCDE afirma também que a igualdade de género no mercado de trabalho poderia aumentar o PIB global em até 12%, até 2030. Estes dados mostram que a inclusão feminina não é apenas benéfica para as organizações, mas também para a economia em geral.
Ou seja, e resumindo - como se não bastassem as considerações motivadas pela necessidade de equidade e justiça social, ou aquilo que o bom senso recomenda, são crescentes e cada vez mais objetivas as vantagens económicas e financeiras da diversidade. Não só a diversidade de género - mas também a diversidade étnica e a integração de pessoas com deficiência - são fatores que, quando devidamente endereçados, podem contribuir para um aumento de performance, produtividade e ainda de inovação, como também para a melhoria da cultura organizacional, com os inerentes ganhos em satisfação de pessoas.
Mas agora vem a pergunta de ouro - e porque é que a diversidade de género traz todos estes benefícios? o que é que o género feminino pode, em concreto, trazer de valor acrescentado às organizações, aos mercados, à economia de uma forma geral?
Existem várias opiniões e pontos de vista, que respondem de diversas formas a esta pergunta. Umas respostas mais consistentes do ponto de vista científico, e outras muito mais baseadas na experiência. Todas elas, no entanto, dignas de reflexão. Deixo aqui algumas destas perspetivas, com as quais concordo de forma particular:
- A colocação de mulheres em cargos de decisão corrige desequilíbrios históricos, proporcionando uma mais justa distribuição de oportunidades e poder, gerando desta forma modelos de governança mais sustentáveis e com maior justiça social. Isto mesmo é corroborado por um estudo da Organização Internacional de Trabalho, datado de 2019, intitulado "Women in Business and Management: Gaining Momentum";
- Na área da política pública, um estudo do Journal of Politics com o título "Women in Parliament: Providing a Voice for Women’s Interests", concluiu que mulheres no Parlamento têm uma maior propensão a promover legislação nas áreas dos direitos humanos, igualdade de género e
- desenvolvimento social. Isto significa que investir em colocar mais mulheres em cargos de decisão de empresas, poderá influenciar também a política pública a promover mudanças que beneficiem não apenas as mulheres, mas a sociedade como um todo;
- Existem competências muito necessárias para o chamado futuro do trabalho e que são muitas vezes associadas aquilo que normalmente se entende como a representação social do feminino - a empatia, a capacidade de comunicação, agregação e construção de redes, a resiliência e a capacidade de multitasking;
- Finalmente, destaco ainda o papel fundamental que a presença de mulheres em altos cargos de gestão e liderança representa para a inspiração das futuras gerações. A visibilidade de mulheres em posições de decisão, ajuda a quebrar estereótipos de género, e desafia as normas culturais que limitam as ambições femininas. Exemplos como o da Girl Move, organização que promove a liderança feminina em jovens Moçambicanas, é um excelente caso de sucesso, numa iniciativa de impacto portuguesa, que é reconhecida e premiada internacionalmente.
Resumindo: investir na diversidade de género não é apenas uma questão de responsabilidade ou de justiça social, mas um impulsionador do sucesso e da sustentabilidade organizacional. Existem várias razões para queremos mais mulheres a mandar no mundo. Mas a principal é bem simples - o mundo é, de facto, melhor, mais pacífico e equilibrado, quando às mulheres é dada a mesa do poder, em igualdade de circunstâncias, com os homens. E, para além disso, é bom para o negócio. Líderes inteligentes e atentos sabem disso. E, por essa razão, procuram trabalhar, em colaboração com a diversidade de géneros, para fazer crescer a sociedade como um todo, de forma mais saudável e sustentável.