Sustentabilidade e embalagem

Ideias para acabar com os plásticos descartáveis

Verde: inovar na produção de embalagens reutilizáveis e concebidas a partir de matérias-primas orgânicas ou recicladas é o desafio do Prémio Packaging Enterprise Award, que anuncia esta semana os quatro finalistas

Missão: revolucionar as vendas a granel. O projeto Zero Cups, vencedor do Prémio Novo Verde Packaging Enterprise Award em 2022, foi o primeiro passo para uma relação de parceria que agora se oficializou. O casamento da The Loop Co., com a Loja do Zero deu origem à joint venture Zeroo Smart Packaging, anunciada na semana passada. Em conjunto, a empresa detentora de diferentes plataformas de economia circular e a loja dedicada a produtos e alternativas sustentáveis querem revolucionar o mercado das vendas a granel. Recorde-se que o projeto Zero Cups materializa o conceito de embalagens inteligentes e circuláveis com capacidade de armazenar toda a informação sobre o produto, desde a data de validade à sua origem, e ainda a quantidade de vezes que foi reutilizado. Ricardo Morgado, cofundador da The Loop Co. (à esquerda na foto da nova equipa Zeroo Smart Packaging), revela ao Expresso que após o concurso o projeto “correu muito bem e superou as expectativas”. Em curso está já um projeto-piloto com o grupo Auchan, que será integrado numa nova loja com abertura prevista para o verão. Para já, o sistema está disponível na Loja do Zero, no Lumiar, que serve também de montra para outras lojas que pretendam ter a oferta de granel em e-commerce.
D.R.

Fátima Ferrão

Milhões de embalagens de utilização única são produzidas e usadas anualmente em Portugal e comprometem a sustentabilidade de cidades e de ecossistemas. Segundo a Eurostat, em 2020, apenas 37,6% das embalagens de plástico foram recicladas na União Europeia (UE). Em Portugal o valor foi apenas de 34%. Quanto à incorporação de material reciclado, e de acordo com a Plastics Europe, o teor alcançado em embalagens foi de 2,9 % no mesmo ano, quando as metas da UE exigem que esta percentagem suba até aos 35% em 2030. Números preocupantes que impõem a aceleração de soluções que contribuam para o aumento da reciclagem e da circularidade no ciclo de vida das embalagens. O Packaging Enterprise Award, que tem este ano a sua quarta edição, serve para a dinamização de soluções que deem rápida resposta a este problema. O júri selecionou os quatro finalistas que terão a hipótese de acelerar a implementação do seu projeto. Fique a conhecê-los.

BioReboot

Resíduos agrícolas que renascem

Transformar os resíduos agrícolas desaproveitados num biopolímero (composto químico produzido a partir de seres vivos ou de plantas) que dá origem a produtos de valor acrescentado, como sementeiras biodegradáveis para substituir os tabuleiros e sacos de plástico descartáveis usados na agricultura, é a proposta da BioReboot. Com sede na Madeira, a startup assenta o seu modelo de negócio na economia circular e pretende dinamizar as boas práticas de sustentabilidade num sector que ainda conta com uma forte componente tradicional. Thiago Gomes, o CEO e fundador, destaca o caráter inovador da proposta. “O biopolímero que estamos a desenvolver é feito a partir de fibras naturais de resíduos agrícolas, o que lhe dá características específicas conforme o tipo de produtos finais.” No exemplo do sector agrícola, explica, os protótipos das sementeiras biodegradáveis, desenvolvidas a partir deste biopolímero, apresentam maior disponibilidade nutricional, melhor absorção e retenção de água e maior rapidez de degradação, quando comparadas a outras alternativas biodegradáveis disponíveis no mercado. Além da área agrícola, a BioReboot identificou outras oportunidades para o seu biopolímero, nomeadamente no sector do packaging alimentar, da construção, do design de interiores, do isolamento térmico/acústico, do mobiliário e, até, da indústria automóvel.

Digital Polymers

Plástico reciclado com menor impacto

Contribuir para o aumento da circularidade das embalagens é o objetivo do Digital Polymers, que pretende desenvolver um modelo computacional para estudar as propriedades mecânicas do plástico reciclado ao nível molecular. “O plástico reciclado sofre fenómenos de degradação que precisam de ser conhecidos para melhorar as suas propriedades”, explica Ana Pires. A responsável pela investigação e desenvolvimento (I&D) no Centimfe — Centro Tecnológico da Indústria de Moldes, Ferramentas Especiais e Plásticos assegura que, com este modelo, será possível fornecer informação à cadeia de valor do plástico, para conceber novas embalagens a partir de plástico reciclado, cumprindo com as metas de incorporação, que deverá chegar aos 35% já em 2030. A abordagem do Digital Polymers permite estudar os polímeros reciclados a nível molecular, sem consumir recursos físicos e em menos tempo. Com a implementação do projeto, remata a responsável de I&D, será possível fechar o ciclo do plástico, reduzindo os impactes ambientais, promovendo a economia circular e contribuindo para a robustez socioeconómica da indústria de reciclagem.

PlanetPaper.ECO

Contra as embalagens de uso único

Foram precisos três anos de investigação e desenvolvimento, de inovação tecnológica, de apoio científico da Universidade de Aveiro e um processo industrial e produtivo muito específico para chegar à PlanetPaper.ECO, uma solução de embalagens de uso único e 100% sustentáveis que, nas palavras de Vasco Garcia-Lopes, se distingue pela resistência e adaptabilidade ao formato de cada produto. O CEO e fundador reforça a importância da substituição de grande parte das embalagens de uso único com base em plástico, esponja e esferovite, ou de origem fóssil, por uma solução biodegradável para a descarbonização do planeta. “Recorde-se que 85% do lixo marinho é plástico e metade deste são embalagens de uso único”, aponta. Com esta solução, explica o fundador, é possível substituir diversas matérias-primas de embalagens de origem fóssil e nocivas ao ambiente, reduzir o consumo de água e de energia no processo produtivo, utilizar resíduos de celulose na elaboração dos compostos que fazem parte destas novas embalagens, e garantir uma menor emissão de CO2.

Repete Portugal

Bem-vindos ao take-away 2.0

“Nascemos da missão de descartar o conceito de lixo e começamos pelo take-away”. É desta forma que Francisca Bicho, fundadora do projeto Repete Portugal, explica o que diferencia este sistema digital de embalagens reutilizáveis e rastreáveis de take-away. “Conseguimos que uma embalagem Repete retire, pelo menos, mil descartáveis de circulação, visto que pode circular pelo menos 1000 vezes sem perder qualidade”, reforça. Consumir refeições take-away sem gerar lixo é, na opinião de Francisca, uma das grandes vantagens, a que se somam outras como a capacidade de manter a temperatura ou de evitar derrames e o sistema de incentivos que premeia quem devolver a embalagem em menos de 15 dias. Para os comerciantes, o principal benefício será o cumprimento do novo regulamento, que entra em vigor em 2024, e que prevê a obrigatoriedade de os estabelecimentos oferecerem alternativas reutilizáveis em regime de take-away. A Repete Portugal fornecerá uma rede de restaurantes e estabelecimentos alimentares já em 2024, com gestão através de uma plataforma digital que assegura circularidade e transparência a todo o ciclo. “Bem-vindos ao take-away 2.0, inteligente, urbano e sem lixo”, conclui.

Inovar vale €25 mil

O prémio

O Novo Verde Packaging Enterprise Award visa dinamizar a investigação e apoiar o melhor projeto no sector das embalagens e resíduos de embalagem. O vencedor recebe um prémio de €25 mil para aplicar na execução do projeto.

O desafio

Apresentar uma solução inovadora que possibilite melhorias significativas em qualquer parte do ciclo de vida das embalagens e com impacto positivo na gestão de resíduos.

Os candidatos

O concurso destina-se à indústria, comércio, serviços, academia e outras áreas tecnológicas relacionadas com o sector das embalagens.

As datas importantes

Fechadas as candidaturas a 31 de março, anunciados os finalistas agora, só falta o júri anunciar em maio o vencedor. Saiba tudo AQUI.

Um novo prémio

A iniciativa Novo Verde Packaging Enterprise Award, que recompensa um projeto inovador no sector das embalagens, conta nesta edição com o Expresso como parceiro de media. Este prémio, que distingue trabalhos de investigação e desenvolvimento (I&D) com origem na indústria, distribuição ou nas áreas tecnológicas, terá um valor global de €25 mil.

Textos originalmente publicados no Expresso de 28 de abril de 2023