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Microsoft anuncia novo chip quântico e abre caminho aos materiais topo-condutores que evitam erros

Comunidade científica prefere refrear entusiasmo até se conhecerem mais detalhes. Microsoft acredita que criou um chip que abre caminho à era dos topo-condutores, mas também exige um comportamento de partículas que, na verdade, ainda ninguém observou

O chip Majorana-1 promete abrir caminho a uma nova família de computadores quânticos
Microsoft

Majorana 1 é um chip, mas é também o grande anúncio que promete levar a Microsoft para o pelotão da frente da computação quântica. A gigante das tecnologias acaba de anunciar ao mundo um chip que promete acomodar mais de um milhão de bits quânticos, quando os Recordes do Guiness revelam que, atualmente, a máquina que lidera essa corrida tecnológica não vai além dos 1180 bits quânticos. E a Agência de Projetos de Investigação Avançada da Defesa, dos EUA, já fez saber que pretende conhecer melhor a tecnologia.

“Demos um passo atrás e dissemos: “ok, vamos inventar o transístor da idade quântica. Que propriedades vamos precisar que tenha?”, recorda Chetan Nayak, investigador da Microsoft num comunicado da empresa que dá conta do novo chip Majorana 1. “É a combinação, a qualidade e os detalhes mais importantes na nossa camada de materiais que permitiu um novo tipo de qubits (bits quânticos) e no limite desenvolver uma nova arquitetura”, refere ainda o cientista da Microsoft.

Cada bit corresponde a uma unidade ou nó de informação – e passar de 1180 para um milhão de bits quânticos pode ser suficiente para criar computadores quânticos mais pequenos que conseguem produzir cálculos de maior utilidade e não apenas operações de valor meramente teórico. A expectativa quanto aos novos materiais é grande, mas tem um desafio: a existência de um comportamento de um coletivo de partículas que nunca ninguém viu a acontecer. E esse fator não ajuda a descansar a comunidade científica.

Num artigo publicado na revista Nature, os cientistas da marca americana revelam que o novo chip Majorana é composto por uma liga de arsenieto de índio com alumínio – e é esta apenas a parte mais visível e confirmada. Depois, há as técnicas usadas para acautelar todos os “caprichos” quânticos.

Segundo a Microsoft, cada qubit (ou bit quântico) do chip Majorana 1 está conectado a nanocircuitos que formam um “H”. Neste H existem quatro partículas conhecidas como majoranas que são “controláveis” e por isso abrem a porta à manipulação e à codificação de dados. Cada qubit em forma de H pode ainda ser conectado a outros similares.

Mesmo sendo auspiciosa, a explicação dada no comunicado não chega para convencer a comunidade científica por inteiro. Ernesto Galvão, líder do Grupo de Computação Quântica e Ótica Linear do Laboratório Internacional Ibérico de Nanotecnologia, questiona mesmo se os cientistas da Microsoft já conseguiram realmente produzir bits quânticos. O investigador recorda que os comunicados da Microsoft garantem que já conseguiram produzir qubits com esta nova tecnologia, mas o artigo científico publicado na Nature é mais comedido e não apresenta provas científicas de que foi possível criar um qubit.

“Admito que possam vir a conseguir o que procuram mas ainda não chegaram lá. Pode ser que nas próximas semanas ou meses venham a ser publicados novos artigos”, responde ainda o cientista que trabalha no laboratório sediado em Braga.

Em Lisboa, a reação também é comedida: “É um passo importante, mas ainda estamos longe de ter um computador quântico”, refere Yasser Omar, presidente do Instituto Quântico Português. “É uma abordagem original, para não dizer que é mesmo uma abordagem exótica”, acrescenta.