Tecnologia

Dona do Facebook, Instagram e WhatsApp não faz tudo o que pode para proteger menores, denuncia ex-funcionário

Ex-chefe de engenharia e consultor da Meta acusa empresa de ter as infraestruturas necessárias para proteger crianças e adolescentes de conteúdos com automutilação e suicídio, mas de não as estar a implementar devidamente

Getty

A Meta – dona do Facebook, Instagram e WhatsApp – não está a fazer o suficiente para proteger as crianças e adolescentes de conteúdo prejudicial, nomeadamente sobre automutilação, suicídio e depressão. A denúncia é feita por Arturo Béjar, um ex-engenheiro chefe e consultor da Meta, que garante esta quarta-feira ao “Guardian” que a gigante tecnológica já tem a infraestrutura necessária para salvaguardar os menores nas plataformas do grupo.

De acordo com uma análise feita pelo denunciante quando trabalhava enquanto consultor da Meta, entre 2019 e 2021, cerca de 8,4% dos utilizadores entre os 13 e 15 anos já foram expostos a conteúdos em que pessoas se magoam a si próprias ou ameaçam fazê-lo.

“Se tivessem aprendido com Molly Russell criariam um produto seguro para jovens de 13 a 15 anos, onde na última semana um em cada 12 não teria visto alguém a magoar-se ou a ameaçar fazê-lo. E onde a grande maioria deles se sentiria apoiada quando se deparam com conteúdo de automutilação”, disse.

O denunciante referia-se ao caso da jovem britânica de 14 anos, que em 2017 cometeu suicídio. Em 2022, o tribunal concluiu, numa decisão histórica, que “morreu devido a um ato de automutilação enquanto sofria de depressão e dos efeitos negativos do conteúdo online”. Molly Russell terá tido contacto com conteúdos sobre suicídio, automutilação, depressão e ansiedade no Instagram e Pinterest.

Segundo Arturo Béjar, que foi diretor de engenharia da Meta até 2015, com responsabilidades na pasta do conteúdo prejudicial para crianças, a gigante tecnológica tem a infraestrutura necessária para resolver o problema da exposição de menores a estes conteúdos, mas escolhe não fazê-lo. Sobretudo no Instagram, o problema poderia ser resolvido em três meses.

“Eles têm toda a maquinaria necessária para fazer isso. O que é necessário é a vontade e a decisão política de dizer, aos adolescentes, que vão criar um ambiente verdadeiramente seguro que será analisado publicamente”, afirma.

Em novembro de 2023, Béjar já tinha prestado depoimento no Senado dos EUA, acusando a Meta e o seu presidente executivo, Mark Zuckerberg, de ignorarem há vários anos os efeitos negativos do Instagram nos adolescentes.