Após abandonar o código de conduta da União Europeia contra a desinformação online, o Twitter aposta agora numa ferramenta que coloca os utilizadores no centro da estratégia da plataforma para combater a divulgação de informações falsas. Chama-se "Community Notes" ("Notas da Comunidade", em português), e chegou recentemente aos utilizadores europeus.
O segredo está em dar aos próprios utilizadores da rede social o poder de escrever notas que passarão a acompanhar certos tweets, podendo desta forma refutar informações falsas ou acrescentar contexto se acharem necessário. Poderão introduzir links para vídeos ou artigos de jornal que contrariem o que é dito, imagens ou apenas texto.
O processo é iniciado por uma inscrição individual, sendo que qualquer pessoa pode participar desde que cumpra três critérios: ter uma conta no Twitter há pelo menos seis meses, nunca ter recebido uma notificação recente de violações das regras da plataforma e ter um número de telemóvel autenticado.
Depois da inscrição, os utilizadores poderão começar a escrever notas e acrescentar informação a qualquer tweet. No entanto, as notas serão apenas aprovadas e publicadas mediante um acordo amplo entre vários colaboradores, já que cada um terá também a responsabilidade de comentar e avaliar as informações adicionadas pelos seus pares. Se um número suficientemente elevado de pessoas considerarem uma nota “útil”, esta será publicada.
Não é ainda claro o método pelo qual certos utilizadores serão instados a avaliar certas notas em detrimento de outras, mas o Twitter adiantou um dos critérios: irá privilegiar o contacto entre utilizadores que discordaram em passadas avaliações, tentando assim evitar decisões “injustas” e tendenciosas. É por isto que Elon Musk, o dono da rede social, declarou que este será um "fator de evolução no combate à informação falsa".
Neste contexto, a responsabilidade estará apenas do lado dos utilizadores, já que o Twitter garantiu que não irá escrever, avaliar ou fazer moderação das notas, exceto se estas violarem as regras da plataforma.
Num artigo do “Financial Times”, a colunista Jemina Kelly mostrou-se dividida ao ponderar se esta ferramenta será bem-sucedida no combate à desinformação. Por um lado, ao entregar o leme aos membros da plataforma, o sistema elaborado pelo Twitter pode ganhar alguma legitimidade quando comparado com um fact-check tradicional, particularmente aos olhos de utilizadores que desconfiem profundamente das instituições democráticas e dos meios de comunicação.
Por outro lado, será “difícil garantir que o conjunto de colaboradores seja suficientemente diversificado”, aponta Kelly, notando que o critério de selecionar pessoas com base nas suas passadas avaliações não assegura, por si só, uma larga amplitude de pontos de vista. Outro problema: e se muito mais apoiantes de uma determinada cor política decidirem participar nas Notas da Comunidade? Nesse caso, as avaliações poderão ser mais tendenciosas do que o pretendido, mesmo que tudo o resto funcione na perfeição.