O Papa Francisco a usar um longo casaco impermeável branco, com um generoso capuz: parece estranho, mas foi algo visto e partilhado nas redes sociais nos últimos dias – e que muitos acreditaram ser real. A explicação está na inteligência artificial: a imagem falsa foi criada através do programa Midjourney.
Tudo começou na sexta-feira, quando a imagem foi publicada pela primeira vez no Reddit com o título “The Pope Drip”, segundo o “Business Insider”. Depois, como é habitual no mundo das redes sociais, não tardou em espalhar-se, nomeadamente no Twitter e pela mão de várias figuras públicas, como foram os casos da modelo Chrissy Teigen ou do influencer de extrema-direita Ian Miles Cheong.
Embora a imagem do Papa possa parecer realista à primeira vista, há sinais que indicam que é falsa, explica Henry Ajder, especialista em inteligência artificial. A mão que parece segurar uma bebida é uma “confusão deformada” e parece ter sido “misturada”, assim como na zona dos óculos há uma “inconsistência” com a sombra no rosto.
Criado por David Holz em julho do ano passado, o Midjourney utiliza inteligência artificial para gerar imagens com recurso a descrições textuais fornecidas pelos utilizadores. Holz disse em entrevista à “Forbes”, em setembro, que o objetivo da startup sediada em São Francisco, nos Estados Unidos, é o de “tornar os seres humanos mais imaginativos, não o de fazer máquinas imaginativas”.
Têm sido populares imagens criadas pelo programa de figuras como o antigo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o Presidente russo, Vladimir Putin, ou o multimilionário Elon Musk. Ainda na semana passada, foi amplamente difundida uma fotografia falsa de Trump a ser, supostamente, detido pela polícia.
O mundo das imagens geradas por inteligência artificial é relativamente novo, com muitas empresas a disponibilizar este tipo de ferramentas apenas nos últimos meses, escreve a “Forbes”. As imagens falsas existem há muito tempo, mas com programas como o Midjourney qualquer pessoa consegue, através de texto, descrever aquela que quer obter – e criá-la imediatamente.
Ajder destaca que o progresso do Midjourney tem sido “surpreendente”, tendo em conta que o programa já vai na quinta versão, e alerta que este pode criar notícias e imagens falsas de políticos de forma muito “convincente”. O perito aponta preocupações em termos de segurança ou ética, com as empresas num “ambiente competitivo de corrida”, em que tentam ser vistas como as “primeiras a avançar”.