Saúde

Hospital de Viseu sem urgência pediátrica à noite em junho

Falta de médicos obriga hospital a ‘fechar a porta’ durante o mês de junho. Unidade só garante atendimento a casos de verdadeira emergência

Filip Singer

É a primeira baixa assumida na resposta aguda hospitalar nos meses de verão. O hospital de Viseu vai ‘fechar a porta’ da Urgência pediátrica à noite durante todo o próximo mês de junho. O atendimento noturno, entre as 20h e as 9h, só será garantido a casos de emergência, sendo as demais situações agudas encaminhadas para os cuidados primários ou para as alternativas hospitalares, todas a, pelo menos, 80 quilómetros de distância. O hospital explica que não tem pediatras suficientes para assegurar todos os cuidados na pediatria e a recém-nascidos no bloco de partos, sendo obrigado a condicionar a assistência.

Em comunicado, a Unidade Local de Saúde Viseu Dão-Lafões justifica que o Plano de Contingência para a Urgência de Pediatria posto em prática em alguns períodos desde março vai agora ter de ser alargado face ao agudizar da falta de profissionais. “Há apenas 15 especialistas a efetuar trabalho de urgência (oito durante o dia e sete à noite), sendo certo que muitos vão atingir no verão o limite legal de horas extraordinárias”, no caso 150 ou 250 horas para os médicos em dedicação plena. Com as equipas ‘à pele’ foi preciso fazer escolhas.

“Para poder maximizar a disponibilidade dos pediatras durante o verão, sem impedir o legal diretor ao gozo de férias, importa limitar a atividade assistencial da Urgência pediátrica aos períodos diurnos e às situações de emergência em período noturno.” A razão é simples: “Para garantir disponibilidade para uma escala continuada de apoio à Urgência interna e bloco de partos, evitando assim mais roturas assistenciais em cascata.” Ou seja, à noite não há pediatras para acudir as crianças que acorram à Urgência, de forma a que haja médicos para tratar das que foram internadas ou de quem nasce.

Os responsáveis garantem que a falta de médicos não foi possível de sanar mesmo recrutando mais. “Apesar de ter ocorrido a contratação de pediatras, em regime de prestação de serviços, para realizar turnos de urgência, a saída de dois internos que terminaram agora a especialidade, aliado ao facto de ainda não ter sido aberto concurso nacional para recém-especialistas, agravou as condições de resposta.”

Além do encerramento noturno da urgência, o ‘penso rápido’ inclui o reforço do atendimento durante a semana nos centros de saúde de Viseu e nas urgências básicas em Tondela e São Pedro do Sul. Os especialistas hospitalares relembram aos pais que “a maioria das doenças agudas pediátricas são benignas e autolimitadas”. No plano hospitalar, a resposta caberá a Coimbra, Aveiro ou Guarda conforme a indicação a dar pela linha SNS 24 ou pelo INEM, que os pais devem sempre contactar antes de se encaminharem para qualquer Urgência.

O presidente da Câmara Municipal de Viseu já reagiu a este anúncio, dizendo que assim que teve conhecimento da decisão da administração hospitalar, telefonou para o gabinete da ministra da Saúde, "que não tinha indicação" dos planos. "O gabinete da senhora ministra está a tentar saber junto do conselho de administração e da comissão executiva o porquê disto", contou o autarca social-democrata Fernando Ruas, que também preside a Comunidade Intermunicipal Viseu Dão Lafões.

"Refutamos vivamente esta decisão, sobretudo sem que alguém dê explicação sobre a mesma", sublinhou.

CEO do SNS dá explicações no Parlamento

Viseu surge como o primeiro constrangimento no mapa de férias de verão, mas não vai ser o único. O Governo sabe que muitos hospitais vão passar pelo mesmo e já decidiu renovar o aumento de 40% no valor hora pago aos tarefeiros nas urgências. Outras soluções deverão surgir no final do mês com a apresentação da estratégia pedida ao grupo de peritos encarregue também de traçar o Plano de Emergência para a Saúde.

A ministra Ana Paula Martins encomendou o tratamento SOS de verão depois de ter vindo a público dizer que a Direção-Executiva do SNS não tinha ainda preparado um plano ou, existindo, que o diretor executivo do SNS demissionário não lhe quis entregar. A questão será uma das várias, incluindo as razões do próprio afastamento, a que Fernando Araújo deverá dar resposta na quarta-feira aos deputados no Parlamento.